quarta-feira, 28 de maio de 2008
O Sábio Mohandas..
discípulos:
_ " Por que as pessoas gritam quando estão aborrecidas ” ?
_ " Gritamos porque perdemos a calma ", disse um deles.
_ " Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao seu lado “ ?
Questionou novamente o pensador.
_ " Bem, gritamos porque desejamos que a outra pessoa nos ouça ", retrucou outro discípulo.
E o mestre volta a perguntar:
_ " Então não é possível falar-lhe em voz baixa “ ?
Várias outras respostas surgiram, mas nenhuma convenceu o pensador.
Então ele esclareceu:
_ " Vocês sabem porque se grita com uma pessoa quando se está aborrecido? O fato é que, quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações se afastam muito. Para cobrir esta distância precisam gritar para poderem escutar-se mutuamente. Quanto mais aborrecidas estiverem, mais forte terão que gritar para ouvir um ao outro, através da grande distância. Por outro lado, o que sucede quando duas pessoas estão enamoradas? Elas não gritam. Falam suavemente. E por quê? Porque seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena. Às vezes estão tão próximos seus corações, que nem falam, somente sussurram. E quando o amor é mais intenso, não necessitam sequer sussurrar, apenas se olham, e basta. Seus corações se entendem. É isso que acontece quando duas pessoas que se amam estão próximas."
Por fim, o pensador conclui, dizendo:
_ " Quando vocês discutirem, não deixem que seus corações se afastem, não digam palavras que os distanciem mais, pois chegará um dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de volta".
(Mohandas K. Gandhi)
segunda-feira, 26 de maio de 2008
E um pouco de Filosofia
Após o discurso de todos, Sócrates expõe a idéia do que posteriormente ficaria conhecido como “amor platônico”: o primeiro amor a se manifestar (quando ainda somos jovens e inexperientes) é na verdade, uma atração por pessoas fisicamente atraentes – com as quais queremos partilhar do gozo. Sócrates considera esta forma de amor “pouco nobre”. Sócrates continua, afirmando que quando se percebe que a beleza específica de um corpo é somente um exemplo da beleza dos corpos em geral, a paixão – em geral – diminui e passa-se a valorizar e amar a beleza onde quer que ela se encontre: tornamo-nos capazes de aprender a lição de que a beleza interior é mais valiosa que a mera beleza estética, e então, a partir daí, torna-se possível uma apreciação da beleza da ciência e da filosofia, caminho para chegar-se a apreciar a beleza crua, a “beleza da beleza”.
Para Sócrates, o amor começa com a paixão por um corpo esteticamente atraente e termina no amor pela beleza absoluta. Em se tratando do sexo, o desejo sexual é considerado uma versão de qualidade inferior do amor sublime – que quando descoberto, tornaria possível o abandono de desejos físicos.
Quando amanheceu, todos já haviam ido embora ou dormiam, bêbados. Sócrates então levanta-se e dirige-se ao Liceu, passando o dia ensinando, como usual, tendo à noite voltado pra casa e só então, repousado.
Thiago carvalho é : estudante de filosofia na federal de sao paulo.
sábado, 24 de maio de 2008
O suicídio do suicídio
“Passa um cisco de tempo e tudo retorna ao mesmo lugar de partida. Lembro de como sempre me foi complexo explicar, e agora é ainda mais. Se fossem, essas letras, um romance, ninguém mesmo suportaria ler. Está sendo enfadonho, já no início, até mesmo escrever.
O quê?! Sobre o que mesmo é que eu ai escrever? Esqueci. Esqueci até mesmo que o tempo nos faz esquecer. Nos faz esquecer das coisa que devíamos ( e continuamos devendo) ler, escrever, estudar, dizer e sonhar. Sempre sobra apenas a vontade de continuar! Vontade híbrida ao instinto de preservar a si mesma.
Isso é hoje, mas não foi sempre assim. Aproximadamente ao meados dos 21 anos a gente muda...
Então, como pilhérias dos mais puros e sublimes palhaços, viver se transforma no riso. Então a gente finge a gente, obcecada, isso: a gente obcecada – e morta – vai fingindo. E o resto? O resto vai vivendo sem perceber coisa nenhuma. Pensando que o mundo é mesmo assim como se vê. Pensando isso, mas sem a lucidez de Alberto Caeiro.
Mas existem moços e homens que parecem verdadeiros milagres, existem comidas com sabores de vidas nunca antes experimentadas, existem orgasmos das mais díspares espécies, existem abelhas que impulsionam a algum mistério e fantasia nos pensamentos, e existe, principalmente, o inebriar-se, seja com gim ou com sonhos lúcidos.
Então chega a fase que a gente percebe isso com tão tamanha contundência e pertinência que não dá mais para pensar em suicídio.
Vem a paz. E também o desespero misto a isso.
O suicídio morreu. Não deveria.
Deveria?
Ai, a eloqüência! Um certo professor de filosofia vive falando que é coisa de adolescente de colegial a gente achar que sabe uma coisa mas não sabe exprimi-la. Diz que quando a gente sabe bem o que quer dizer a gente se expressa claramente.
Eu sei bem o que quero dizer:
“O suicídio morreu, e me parece muito óbvio que isso não é nada bom”.
Postada pela doida da Paula que está com um enxame de abelhas do cérebro mais enorme do que nunca por estar tentando entender Espinosa.
O Gim e os Amantes
Não era apenas o sentir a sensualidade latejando.
Era tão mais incomum! Tão mais latente!
Tão mais quase um dente caído, uma faca crua.
Ah! Como queria ( como mesmo! ) saber explicar!
A eloqüência seria a dádiva mais valiosa do mundo!
Se a tivesse! Se... Mas se a tivesse!
Ligaria, nesse momento, para todos os amante. Todos!
Diria como é o ir para a lua com o gim que sentia.
O gim azul feito o céu ou o verde feito o mato!
Ou o marrom aleonado. Qual é mesmo a cor?
Tanto faz. É feito doce, feito salgado.
Gim é gosto e é cor. É mesmo tão peculiar.
Peculiar era ela! Peculiar era mesmo os que teve!
Peculiar era aquela vida nos sonhos lúcidos!
No querer entender ao acordar pela madrugada!
Nos bares! Nas festas! Nos falos! Nos orgasmos!
Mas em como foi o princípio ninguém nunca saberia!
Nem ela mesma saberia! Jamais alguém teria a idéia ínfima!
E o que daria para voltar lá!? O quê?!?!
Seja como for... Nada faz sentido sem mistérios...
Sem mistérios e segredos.
(Paula Cicolin – 21/05/08)
Sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor, pois se eu me comovia vendo você, pois se eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo meu deus, como você me doía vezemquando. Eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio duma praça, então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta coisa, mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme só olhando você, sem dizer nada, só olhando e pensando: ah meu deus, como você me dói vezemquando.
Caio Fernando Abreu - Harriet
quarta-feira, 21 de maio de 2008
Personal Goals
Me falta paciência pra tanta inutilidade.
Me falta uma mulher
Alguém q me complete de verdade
Que me faça transcender o céu e a terra
Na minha busca por liberdade
Faz parte do caminho, sofrimento
Provações, decepções
Tudo em prol do esclarecimento
Para abrir em mim
Os olhos da sabedoria da serenidade e sensibilidade
Ser firme, porém nunca grosso
Ser sábio, porém nunca desdenhoso
Pragmático, mas nunca precipitado
Ser ousado, mas sempre meticuloso
Afortunado, mas nunca perdulário
Não ser cego pelos meus olhos
Nem pela lógica
E Nunca Pela Razão
Thiago Carvalho é: Um Ponto Material, Diante de um corpo Extenso.Um Modo Infinito Dos Atributos da Substäncia.(Um Louco)
Encontros e despedidas.
Vivemos a infância e nos separamos dela. Talvez, nossa primeira despedida significante. Num piscar de olhos, o nosso quarto se esvazia dos nossos brinquedos. Já não temos mais aquele lego que ganhamos no natal nem aquele quebra-cabeças de 2 mil peças que passamos quase 1 mês pra montar (sem a ajuda de ninguém!!). Damos adeus aos nosso mundo infantil e nos encontramos com o mundo adulto, chato e cheio de dores.
Antes, nossa grande experiência amorosa era a materna. Dávamos de um tudo pra receber aquele copo de leite quente com aquele beijo gostoso na testa antes de dormir. Agora, isso se expande. Amamos pessoas que encontramos no caminho sem ao menos entender bem o motivo. Não há motivo muitas vezes. Quando percebemos, estamos cultivando uma amizade, um amor. É um novo encontro. Sempre tão espledoroso: abraços, sorrisos, descobertas, ansiedade (boa)...é o passo em falso que temos o prazer inicial de dar. Arriscamos, pagamos pra ver; gostamos disso! O que desagrada são as despedidas.
Ah, as despedidas... tão duras, tão cruas, tão cheias de dor. É só aí que paramos pra pensar no encontro, onde tudo começou. Paramos pra pensar se tudo valeu a pena, se aquele passo em falso inicial te valeu de alguma coisa. Paramos pra valorizar o que já passou.Acho que sempre será assim: encontros e despedidas. O ser humano é um eterno pedaço de cada um. Realmente acho que cada pessoa é formada do que ficou de cada um desses encontros e cada despedida é uma oportunidade de rever atitudes e repensar comportamentos.Mas como tudo isso dói!
O que me vale é pensar que, ao mesmo tempo que ficou em mim alguma coisa, eu devo ter deixado algum pedacinho de mim por aí também. É isso que me conforta e que me faz esperar novos encontros e suportar tantas despedidas.
segunda-feira, 19 de maio de 2008
Menina de Andrajos
É claro que ela deve rir muito – o riso de Demócrito – das vitrines dos shoppings
Talvez seja uma atriz que já tenha, lindamente, interpretado Ofélia
Como são invulgares essas garotas com fuzis de livros e sem vestido!
Mas são melhores os homens! Eles são mais sagazes e cônscios da arte livre de gostar
É claro que uma Pagu me faria bem! Pena que essas já não existem
Mas as mulheres que tive também eram díspares e liam Mrs. Dalloway
Eram profundas e feitas de orgasmos até onde só as divas alcançam
Como eu, mas de mim eu já estou cheia, tenho-me sem parar
Gosto mesmo é de chupar falos inefáveis de pêlos e cabelos
Mas essa menina! Essa menina me fez querer a vida!
Foi uma fagulha que me remeteu a tudo que é feito para que eu respire:
Mente, letras, gim, abelhas, buracos negros em espirais, sangues, transtornos...
E tudo distante de pureza... Pureza? Como assim? Que palavra é essa?
Todos os corpos estão sujos e toda sujeira nua de verdade
Castidade é como cacto numa redoma vermelha, me diz as dadaístas abelhas
Minhas abelhas que zumbem no encéfalo me matam sempre que eu acordo
Vou respirando a sorte, ou azar, de ser um pouco do sonho da noite de insônia
De ser uma esquizofrênica tão lúcida e invisível sem escolha
Infinitos mistérios que jamais abraçarão eloqüência!
Desse desespero, um dia eu encontrei a definição lendo uma poetisa suicida
Uma definição que deu o significado exato para os meus sentidos: oca!
Oca! Como se eu fosse sem conteúdo! Não sei pensar com destreza
Sou apenas abelhas sem raciocínio que não compreendem
Cada vez mais vazia! Cada vez mais difícil! Medo enorme de apagar!
A adolescente escrevia um poema, e eu li: “Como é lúgubre a certeza...
A certeza de como são crassas essas letras que bordo! De como sou tão nada!
Como essas letras são impossíveis de serem boas! Vocabulário ralo para ser poeta!”
Oh! Menina obcecada! Como eu me empolgo por você ser tão desse jeito!
Quer chocar e nem isso consegue, eu sei. Eu também!
Para todos os humanos: um prato de fezes
Para todos os amantes: um cu
Para todos os bêbados: muita pinga e esperança
Para todos os burgueses e classe média parva: uma prisão
Nem é preciso desejar, eles vivem nesse lugar. E nem sabem que não respiram.
Estupro-me todos os dias! Sou prostituta masoquista!
Contorço-me sempre, até sentir dores e prazeres
Nelson Rodrigues se inspiraria em todas essas hipocrisias que eu sei
Que eu sei que nunca nos faremos aceitar. Seremos fodidas, sempre
Sabemos que todos os corpos banhados são mais sujos do que de indigentes
Comi sangue de mênstruo e das navalhadas que eu fiz em mim mesma
Fui tão flexível que consegui morder minha clítores e muito gozar
Minha língua sempre quis muito, sugou pênis com todas as forças que eu tinha
Perdi-me em buracos negros de labirinto em espiral
Vivi bocas – em realidades e em sonhos lúcidos – que nunca enxerguei
Bem conheço o nosso mundo, pequena: abelhas na mente, álcool e sexo
Meninos, homens, garotos, todos maravilhosos em demasia, inebriam
Desejamos demais, com a consciência de que o amor não existe
Se acreditássemos que pudéssemos, realmente, amar, aí então...
Aí então talvez vivêssemos uma leveza!
Mas isso não seria apenas bom. Seria bem menos prolífero
Isso eu sei assim que seria. Como amor não há conteúdo de gim
Tristeza e ceticismo amam mais a poesia
Do que paz, amor, tranqüilidade e alegria
Somos mesmo apenas artistas toscas e desgraçadas!
Ser real é mesmo impossível
Gostar demais é mesmo triste
Querer demais é mesmo estranho
Pensar sem algo é mesmo injusto
Injusto e ilusório deveras
Sua imagem foi uma insígnia disso tudo, garota heterossexual
Sua existência me fez saber que esperei incontáveis anos
Para chegar aqui hoje e descobrir estar viva por apenas uma palavra
Uma palavra: obcecação
O que acontecerá eu não sei. O mais provável é que nada.
Apenas o que sei é que é preciso matar a mediocridade
É preciso matar a mediocridade de tudo
E vamos crescendo como o tal cacto da redoma de sangue
Cheias de espinhos e com luzidias obcecações
Caso contrário, sobreviver nada será senão crime!
Paula Cicolin: é um ínfimo ser vivo patológico com um enxame de abelhas no cérebro que estuda filosofia na Universidade Federal de São Paulo.
Insuportável
Não era uma rosa, era um espinho.
Não era, embora parecesse, uma flor.
Era, isso sim, risco à vida, perigo.
Porque mulher é gim e fogo
É literatura indizível pelo avesso
Então é matéria – prima de medos
De mil temores óbvios e inefáveis
Ontem ele havia enlouquecido de prazeres
Inebriado-se com orgasmos quase insuportáveis
Insuportáveis por serem impenetráveis ao tempo
“Só o amor trás felicidade”, havia ouvido.
Então hoje o mundo ficava quase supérfluo
Paradoxalmente um escudo, escudo de fel.
Lembrou de Lorca: “porque as rosas buscam na frente...”
“... uma dura paisagem de osso”.
O quanto ele sabe sobre clítoris?
O duro e a flor, o osso e a carne.
O fel e o gim, as rosas e os espinhos.
A dor e o deleite, o céu e o chão.
O quanto poetas sabem sobre oposições?
Letra alguma dessas tem importância
Importância, significado ou precisão.
Só clítoris trás felicidade, seja como for.
Só o sentir orgasmos insuportáveis serve.
Paula Cicolin (06/03/08)
E o Tal Do Fred...
É notável que o intelecto chegue a produzir este estado de coisas, uma vez que foi justamente concedido como ajuda aos seres mais desafortunados, mais frágeis e mais efêmeros para que se mantivessem por um minuto na existência; é o intelecto, este excesso sem o qual teriam toda a inclinação tão rápido quanto o filho de Lessing*. Este orgulho ligado ao conhecer e ao sentir, venda de nuvem colocada sobre os olhos e os sentidos dos homens, suscita-lhes ilusão quanto ao valor da existência e traz consigo a apreciação mais lisonjeira sobre o conhecimento. Seu efeito mais geral é a ilusão, mas também os efeitos mais particulares trazem neles algo do mesmo caráter.
(*) Alusão ao templário de Natã o Sábio.
Na qualidade de um meio de conservação para o indivíduo, o intelecto desenvolve suas principais forças na dissimulação; este é com efeito o meio pelo qual os indivíduos mais fracos, menos robustos, subsistem, porquanto não lhes é permitido manter uma luta pela existência com os chifres ou com a presa pontiaguda de um predador. Com o homem esta arte da dissimulação atinge seu auge: a ilusão, a lisonja, a mentira e o engano, as intrigas, os ares de importância, o brilho fingido, o emprego da máscara, o véu da convenção, a comédia para os outros e para si mesmo, em poucas palavras, o circo perpétuo da lisonja a uma chama de vaidade nele são de tal maneira a regra e a lei, que quase nada se torna mais inconcebível que o aparecimento de um puro e honesto instinto de verdade entre os homens. Estão profundamente mergulhados nas ilusões e devaneios, seus olhos apenas resvalam pela superfície das coisas onde vêem "formas", sua sensação de nenhum modo conduz à verdade, contenta-se somente em receber excitações e em tocar como num teclado que se coloca atrás das coisas. Por outro lado, durante uma vida inteira, o homem deixa-se enganar à noite em sonhos, sem que seu sentido moral jamais procure impedir isto: no entanto deve ter havido homens que, pela força de vontade, combateram os roncos. O que sabe, em verdade, dizer o homem de si mesmo? E, ainda que pudesse perceber inteiramente a si próprio, tal como é, como expor-se em uma vitrine iluminada? A natureza não lhe esconde a maior parte das coisas, até mesmo em seu corpo, a fim de mantê-lo afastado das dobras de seus intestinos, do rápido fluxo de seu sangue, das complexas vibrações de suas fibras, em uma consciência soberba e quimérica. Ela jogou fora a chave, infelizmente para a curiosidade de que gostaria de olhar por uma fresta bem longe, fora da câmara da consciência, pressentindo então que é sobre este ser impiedoso, ávido, insaciável, assassino, que se funda o homem na indiferença de sua ignorância, agarrado ao sonho de qualquer modo como sobre o dorso de um tigre. De onde, nesta constelação, poderia vir ao mundo o instinto de verdade?
À medida que o indivíduo quer conservar-se diante dos outros indivíduos, mais freqüentemente utiliza o intelecto apenas para a dissimulação, num estado de coisas natural, mas como o homem, por necessidade e tédio ao mesmo tempo, quer viver social e gregariamente, tem necessidade de estabelecer a paz e procura, em conformidade, fazer com que desapareça de seu mundo ao menos o mais grosseiro bellum omnium contra omnes. Esta paz estabelecida traz consigo qualquer coisa que parece o primeiro passo dirigido à obtenção deste enigmático instinto de verdade. Quer dizer que agora fixou-se o que deve ser "verdade" daqui em diante, isto significa que se encontrou uma designação uniformemente válida e obrigatória para as coisas e a própria legislação da linguagem contém as primeiras leis da verdade: pois nasce aqui pela primeira vez o contraste entre a verdade e a mentira. O mentiroso usa designações válidas, as palavras, para fazer com que o irreal pareça real: diz, por exemplo: "eu sou rico", enquanto que, para o seu estado, "pobre" seria a designação correta. Ele mistura convenções sólidas a substituições de sua própria vontade ou a inversões de nomes. Se fizer isto por interesse e, sobretudo, de modo prejudicial, a sociedade não lhe concederá mais sua confiança e então o excederá mais sua confiança e então o excluirá. Os homens não evitam tanto o engano quanto o fato de sofrer um prejuízo por serem enganados: no fundo, neste nível, não odeiam pois a ilusão, mas as conseqüências deploráveis e adversas de certos tipos de ilusão. É num sentido também restrito que o homem quer somente a verdade: deseja as conseqüências agradáveis da verdade, as que conservam a vida; é indiferente ao conhecimento puro e sem desdobramentos e até mesmo hostil em relação às verdades prejudiciais e destrutivas. Além disso, o que são estas convenções da linguagem? São, talvez, testemunhas do conhecimento, do sentido de verdade? As designações e as coisas coincidem? A linguagem é a expressão adequada a todas as realidades?
[Continua]
Retirado de «O livro do filósofo», de Friedrich Nietzsche; Editora Centauro.
Thiago Carvalho: É estudante de Filosofia Na Universidade Federal De São Paulo.
domingo, 18 de maio de 2008
Realidade ou Realidades?
Uma das qualidades que os seres humanos mais têm orgulho é a capacidade de distinguir o imaginário do real. Isso diferencia os “loucos” das pessoas normais.
Agora, como percebemos o que é real? Quando várias pessoas normais vêem a mesma coisa, ela pode ser considerada real. Ou quando várias ouvem ou sentem (pelo olfato, paladar ou tato). Perceba que depende muito da capacidade dos nossos sentidos em perceber o mundo exterior e da nossa mente de entender isso. Os ditos loucos têm diferenças na maneira de entender.
Mesmo assim, vamos trabalhar com a hipótese de que o ser humano tem plena capacidade mental. Além dela, dependemos ainda dos nossos sentidos para captar inteiramente a realidade. Considere nossa visão: Uma águia consegue enxergar uma formiga numa árvore voando a 500 metros de altura. E o cachorro consegue cheirar substâncias muito distantes. O tato da língua da cobra é tão sensível que percebe a vibração dos passos de outros animais ao tocar o chão. A audição do morcego capta diversas frequências sonoras. Como você vê, os sentidos dos seres humanos são muito limitados.
Como nossa mente percebe a realidade então? Ela capta o que pode e extrapola o resto, simples assim. Um exemplo mais simples de entender: os daltônicos. Sua visão é diferente, mas sua mente captou o que podia e “completou” o resto, por isso eles veêm cores diferentes como se fossem iguais, ou as vezes tons da mesma cor como cores diferentes (isso trás até a dúvida, quem realmente tem visão fraca?). Indo para um lado mais detalhista, é por isso que o mundo é um ótimo lugar para alguns e um inferno para outros. Mais detalhes: você pode ser mais de uma pessoa! Na realidade da sua namorada(o) você é um verdadeiro sexy symbol, enquanto na da sua mãe você pode ser uma pessoa madura ou um bebê chorão.
Perceba então que para cada ser humano desse planeta existe um mundo diferente, na verdade uma visão de mundo que parece ser real. Se você for inteligente, perceberá também que pode ser quem você quiser no mundo de cada um deles, e seu mundo pode ser o que você quiser.
Claro que esses mundos não são completamente independentes, eles podem se influenciar. O mundo não fica mais feliz quando você está com sua (seu) namorada(o)? Isso nos leva a discussão sobre intersecção de realidades, realidade forte e fraca e “o que é o senso comum”. Mas essa discussão fica para o próximo post.
Víctor Medeiros
É estudante de Ciências da Computação da UFPE e perdeu a alguns anos a capacidade de enxergar limites na vida
quinta-feira, 15 de maio de 2008
Lavoura Arcaica - pés na terra úmida
O livro (ou o filme, se preferir), conta a história de André, que sai de casa se deixando guiar pelo sentimento de sufocamento em relação à figura do pai. Esse seria o cerne da narrativa, mas traz muito pouco do que a obra oferece na medida em que se alarga com discursos e reflexões sobre a vida. A partir de um pente no alto de um coque, por exemplo, o autor alarga a discussão e vai tratar do papel da figura materna no meio de uma sociedade patriarcal.São muitas as vertentes a serem exploradas. Uma delas é a relação de André com Ana, sua irmã, que, para ele, é a figura da tentação. No filme, essa questão aparece sugerida pelo posicionamentos das câmeras numa das mais lindas cenas: quando Ana, em uma festa, dança aos moldes orientais, demonstrando sua descendência com os quadris e busto.
Raduan Nassar, autor do livro, traz pra obra muitos dos elementos que permearam a sua vida. Apesar de brasileiro, sua raiz sírio-libanesa é transportada para sua escrita bem como sua experiência sensorial com a Bíblia e o Corão: muitos sermões do pai de André, à mesa, remetem às parábolas do primeiro ou ensinamentos do último.
Mas, talvez, o caráter sinestésico de Lavoura Arcaica seja o ponto alto para o envolvimento do leitor com a obra: a fome insaciável de André torna-se a nossa fome. E é uma fome de espírito, que trasborda pelas páginas dos livros. Podemos sentir os pés do personagem na terra úmida, nos cobrimos de folha junto com ele, sentimos sua cólera ou sua glória ao deitar com Ana na casa velha. Conseguimos verticalizar no personagem. O coração fica molinho, molinho, escorrendo, na medida em que André (interpretado no filme por Selton Melo) se vê incapaz de (con)viver com o amor que sente pela irmã. Ainda que seja um ultraje, nos vemos capazes de velar por esse amor incestuoso. O silêncio de Ana, que no filme não tem uma única fala, é um silêncio arrebatador, é daquele tipo de silêncio oco já citado, o oco que diz muita coisa, que dói.
A volta pra casa de André, é assinalada por todo o livro. Acho até que há uma pretensão do autor em deixar a sugestão dessa volta desde o princípio da história: "Estamos indo sempre pra casa" assim como "o gado sempre vai ao poço". É o magnetismo do seio familiar da época, década de 1970. Ao mesmo tempo que André desejava sua libertação, não havia norte em sua vida sem os ensinamentos e valores do pai. Enquanto ele pensa sobre isso no decorrer do livro, ele reflete sobre como a vida se dá na fazenda, junto com seus irmãos e percebe que da mesma forma que não se vê como participante daquela realidade, está preso a ela de maneira umbilical. André é a própria antítese luz e sombra (no filme), lucidez e loucura. Ele queria ser o profeta de sua própria história, estava cansado de "idéias repousadas".
Em diálogo final com o pai, já em casa outra vez, André expõe suas angútias em atropelos de palavras: "Jamais os abandonei, pai. Tudo o que eu quis ao deixar a casa foi poupar o olho torpe ao me verem sobrevivendo à custa de minhas próprias vísceras". O pai termina por julgá-lo como um desertor da palavra e tenta persuadí-lo a acreditar que a conversa é a melhor forma de entendimento, mas o filho, desacreditado lança mão de seu amargor há muito cultivado: "Não acredito mais na troca de pontos de vista. Estou convencido, pai, de que uma planta nunca enxerga a outra.[...] Ainda que eu vivesse dez vidas, os resultados de um diálogo, pra mim, seriam sempre frutos tardios quando colhidos". O pai encara tudo aquilo como ingratidão e, por fim, sua mão de ferro se abate sobre toda aquela discussão, despedaçando-a e espalhando seus pedaços pela casa de forma a nunca mais serem encontrados, mas figurariam ali como marcas, agora, indeléveis.
Reflexões propostas:
"O amor na família é a suprema forma da paciência..." (pai);
"As nossas vergonhas mais escondidas nos traem no rubor das faces" (André);
"Não é sábio quem se desespera e é insensato quem não se submete" (pai);
"Eu que não sabia que o amor requer vigília..." (André);
"É preciso começar pela verdade e terminar pela verdade." (pai);
"Se o pai quis fazer da casa um templo, a mãe, transbordando no seu afeto, só conseguiu fazer dela uma casa de perdição." ( André)
Amanda Borba é: estudante de jornalismo da UFPE e acredita que a arte é a mais sincera de todas as mentiras.
segunda-feira, 12 de maio de 2008
Roteiro De Um Clichê
Amar, por paixão, sem dar-te meu coração, não poderia
Entregar-me como uma rosa a uma mulher cortejada
Com charme, romance, trajando smoking e Piercing
Contigo em meus braços, uma vida de núpcias, para sempre serias amada
Acompanhar-te-ia por todo o mundo.
Resta-me agora o doce sonho
Uma bela lembrança. Incapaz fui de fazer-te feliz, de realizar-te desejos, de fazer-te sorrir. Um longa tornou-se um curta sem atores.
Sombras e espectros desencontram-se num roteiro confuso, onde um passaro vermelho em sua gaiola é Iluminado pelo colorido vitral da igreja.
Uma história de amor sem aventura, sem velas,
Sem cantorias desafinadas em publico de declarações em música
Ou mesmo uma serenata no meio da madrugada.
Uma historia de amor, sem fazer amor em uma praia deserta
Durante uma tempestade, deixando que os corpos sigam o movimento ditado pelo agitado mar sentindo as pesadas gotas de água no rosto e nas costas.
Uma Historia, nem digna de Shakespeare ou de novela das 8,
Um curta sem a convicção do Diretor de sua capacidade de fazer reascender o brilho da atriz principal.
Talvez ele de fato, não tenha essa capacidade.
Mal por não estar com ela, por não faze-la feliz. Mas feliz por ela estar bem, mesmo que sem mim.
Thiago Carvalho é: Um louco que nas horas vagas estuda filosofia na Unifesp.
Para orientação do Espírito.
Por que venho falar-vos sobre orientação do espírito?
falo, pois venho observando a muito que os mesmos problemas aflingem a todos, e eu acho que sozinho cheguei a uma forma de amenizar isto, depois com mais estudo percebi que metodos parecidos foram utilizados por outros. O mais proeminente dentre eles foi Mohandas G.
Percebo muitas pessoas independente da idade,sexo ou classe social perdidas em si mesmas, ou por não saber o que querem, ou o que sentem, ou o que serão enquanto ser.
ou pessoas que achavam estar auto suficientes em suas vidas, e eu sou uma delas, e derrepente por algum acontecimento inesperado percebe sua imensa impotencia sobre os acontecimentos que causam efeitos em suas vidas, e estes muitas vezes não são de fato causados pelo indivíduo em questão, mas sim por agentes externos.
Retomando o texto "tirocínio", está em falta de fato um auto conhecimento, e este é a causa e a consequência da nossa impotência, dúvida. Isto faz com que nos perdamos em nós mesmos.Mas, uma forma de acalmar o espírito inquieto e perturbado, na minha opnião e na de Mohandas, é a adoção de princípios. Os dele são Inspirados na sua fé, sim é um caminho.Os Meus são inspirados no que julgo sensato, integro e correto.
Uma diferença básica da minha pretenciosa comparação com o ja citado Mohandas, que quem ainda não ligou nome a Personalidade, ou apenas desconfia, sim Mohangas G, É Foi e Será o homem Mais integro que ja existiu, e sua fé libertou milhares da injustiça, da Exploração e do abandono. É Conhecido Mundialmente como Mahatma Gandhi.
A diferença dos meus príncipios e os dele, apesar de alguns serem muito parecidos, é o que nos motivou a eles que nos difere (fora uma infinitude de coisas,claro.) Ele Foi motivado Pela fé, e eu apenas precisava de algo para orientar minha alma, uma especie de codigo moral interno para acalmar meu espírito de independente de qualquer coisa, saber que sempre fiz a coisa certa na minha perspectiva.
Um dos Tópicos mais imaturos da humanidade, continua sendo os relacionamentos.
ficarei novamente com os afetivos-amorosos.
A falta de princípios aliada a um completo desconhecimento de si mesmo, nos causam aquela profunda tristeza, mágua, as vezes motivasda por nós, outras vezes pela pessoa amada.O Sofrimento Pelo fim é iminente.Mas Como acalmar a alma?E ter a conciência de que melhor do que foste, talvez, Não poderias te-lo sido.Como fica mais facil, menos doloroso quando a compreensão passa à proêminente perfeição... chega a ser confortante.O Princípio da sinceridade na minha opnião é um dos mais belos e o mais dificil de ser seguido. Normalmente somos sinceros quando nos é conveniente, se-lo sempre é uma tarefa árdua. Poderás assim, ter certeza que dormirás a noite.
O que torna uma pessoa íntegra eu não sei, mas sentir-se assim ja é extremamente válido.A beleza da Integridade transcende qualquer forma de prazer.
A Compreensão não é um príncipio, mas é algo que deve ser exercitado.Ela caminha lado a lado com a Tolerância. As vezes é muito dificil, por exemplo, terminar um relacionamento no qual vc tem plena conciência que vc está ali por inteiro, que faria tudo para o bem estar do outro, mas se realmente está neste nivel, se de fato vc faria tudo pelo bem estar do outro, então vc é perfeitamente capaz de compreender que este talvez fique melhor sem você, independente de quão bom e dedicado vc o era.
Isso é dificil de aceitar, magoa a alma, a auto confiança, mas se é assim que deve ser, o seja. Desconfianças só provam o quao imaturo vc o é também, retomando novamente o texto do Tirocínio relacionamental, um casal esta junto por que quer.
ngm o obriga. E este continua sendo meu argumento para não ver sentido nenhum em ciumes e desconfianças. E aquela conversa de que "confio em vc, mas não nos outros" não faz o MENOR sentido, assim como o ciume em um relacionamento amoroso possui uma contradição interna só por existir.
Não falei tudo que queria, e acho que ficarei velho sem que este tema seja por mim finalizado.
Finalizo este texto com algo belo que vi em um filme sabado.
*As pessoas não se casam por paixão. As pessoas se casam para ter certeza que sua vida não passará em branco no mundo. As pessoas se casam para serem testemunhas uma da outra da vida desta outra, para que, para pelomenos uma pessoa a Sua vida Não passou despercebida*
Era algo mais ou menos assim, que nos lembra o quanto insignificantes somos na totalidade do mundo, e me remete as limitações da Paixão. em outro texto sem data definida para ser escrito me dedicarei só as "paixôes". Espero que para alguém isto faça sentido.
"Relacionamento é feio, Relacionar-se é Divinamente Belo" - Osho, Sabio Oriental Indiano
Thiago Carvalho é estudante de filosofia da Unifesp,Ama Sem Medo e Segue a Risca seus Princípios,e sente-se maravilhosamente bem com isso.
quinta-feira, 8 de maio de 2008
Pode ser tudo, menos ingenuidade: Chega de Cinismo.
Pela terceira vez, em datas diferentes, chegou um texto em minha caixa postal intitulado "A próxima Guerra" sobre a realidade indígena em Roraima. O texto é um depoimento de um cidadão que se diz recém concursado e foi a Boa Vista assumir suas funções profissionais. E neste exato momento em que seis fazendeiros pleiteiam a posse das terras produtivas pertencentes aos povos indígenas em Roraima, o texto tem o claro objetivo de deturpar a veracidades dos fatos na região.
Lembro que o referido texto já foi comentado em duas ocasiões pelo Prof. Dr. Ribamar Bessa Freire (UFRJ), onde aponta as muita inverdades e contradições, para citar algumas: quem realmente é o autor do texto, quem ele entrevistou para fundamentar seus dados, não citou lugares, nem nomes de pessoas, ou instituições de pesquisa - só "achismo"; as terras indígenas oficialmente demarcadas chegam a 43% do território do Estado de Roraima (FUNAI, IBGE, CIR) e não 70% como afirma o autor; não é verdade que a maioria dos indígenas não falam a língua portuguesa, pelo contrário; não é verdade que estrangeiros podem fazer o que bem entendem dentro do território brasileiro - tantos eles e brasileiros, são identificados sobre seus objetivos e fins dentro de uma reserva ambiental ou terra indígena. O maior absurdo é essa idéia de invasão americana, ou separatismo territorial, quantas besteiras.
Recentemente (Jornal Estadão/SP-20/04), outro renomado professor - Eduardo Viveiros de Castro - respondeu a um pronunciamento de um General Heleno Fragoso, comandante militar da Amazônia, a respeito desta antiga tese de separatismo, lembrando que se alguém neste país merece o reconhecimento por assegurar e garantir os limites territoriais do Brasil, são os povos indígenas. Primeiro porque são eles que vivem nestes limites, são fronteiras vivas, "muralhas dos Sertões" e que estão aí há milhares de anos; segundo - são povos que milenarmente vivem sem estado, não necessitando de status políticos ou instâncias burocráticas; terceiro, que há um grande contingente de militares nas fronteiras que são de origem indígena (São Gabriel da Cachoeira e Tabatinga no Amazonas e Uiramutã e Pacaraima em Roraima); ou seja, onde não há arrozeiros, mineradores, fazendeiros e traficantes, a convivência é aceitável entre militares e indígenas. Lembram os pesquisadores, que as terras ocupadas pelos povos indígenas, são pertencentes ao Estado brasileiro e de usufruto dos povos indígenas...
Bem, chega de tentar responder as besteiras deste infeliz texto, cujo objetivo é somente desviar a atenção do real problema de Roraima: invasão das terras indígenas feita por seis fazendeiros, liderada por Paulo César Quartieiro. Assim, aproveito a oportunidade para tratar o assunto com mais seriedade e responsabilidade, chamando a atenção para a situação da violência em Roraima.
O quadro de violência que se arrasta há décadas em Roraima é um retrato da situação agrária no País, com maior incidência, nas terras que são habitadas por povos indígenas, ainda vista por muitos, como fronteira aberta, terra sem dono e sem lei.
Algumas pessoas que vivem nas fronteiras do Brasil, agem como se estivessem a margem do Estado de Direito, estabelecendo critérios, procedimentos casuísticos, afinados com seus interesses pessoais a margem dos princípios democráticos vigente no Brasil. Estabelecidos, alguns destes senhores, acunham-se como empresários, investidores, geradores de emprego e renda, invadem, saqueiam, destroem em nome de um "progresso" inconseqüente e inconsistente, relegando as gerações futuras a natureza danificada, crises ambientais, morte dos rios, dos campos e florestas.
Em Roraima, território eminentemente indígena, vem sendo ocupado por uma pequena oligarquia que se estabeleceu na região há pouco mais de 30 anos e que se fortaleceu com a formação do Estado de Roraima. Gente poderosa, grandes fazendeiros, donos de mineradoras, que enriqueceram a custa da exploração da mão de obra indígena; pessoas com mentalidade dos antigos "coronéis de barranco", que ainda acreditam que podem fazer o que bem entenderem neste país; pessoas que se utilizam de subterfúgios jurídicos para se impor e fazer valer seus ideais de exploração. Influentes pela força do poder financeiros, questionam leis e se impõem contra o estado democrático; recebem apoio dos mais diferentes setores reacionários dos poderes Municipais, Estaduais e Federais.
Pode ser tudo, menos ingenuidade quando o General Heleno Fragoso vem a público se colocar contra os Indígenas, colocando-os como "ameaçadores da soberania nacional"; ou a postura de um dos Ministros do Supremo Tribunal Federal - Marco Aurélio Mello - quando declara ser contrário à tese de que os índios têm direito originário sobre as terras onde vivem: "Se exacerbarmos a ocupação pretérita, vamos ter que entregar aos indígenas a minha cidade maravilhosa do Rio de Janeiro".
Registre e destaque: os povos indígenas de Roraima, em particular os povos que vivem na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, não são transgressores de Direitos. Toda a área indígena respeitou todos os trâmites legais para sua oficialização e homologação, nada foi feito fora das orientações oficiais, todo o processo de identificação e demarcação foi registrado em Cartórios e Diário Oficial do Estado e do Município. Em todas as etapas, as autoridades locais foram informadas quanto ao processo demarcatório. No que pese a demarcação da Área Indígena Raposa Serra do Sol (AIRSOL), o Estado teve todo o direito de reclamar, de ponderar sobre o território demarcado e não o fez. Em 2005, cumprida todas as obrigações legais, após 30 anos de intensas lutas, a AIRSOL foi legitimamente homologada como Terra pertencente aos povos indígenas. Então, essa história do Supremo Tribunal Federal de conceder liminar paralisando a retirada dos arrozeiros da AIRSOL como determina a LEI, nada mais é do que um atentado contra o Direito legitimamente conquistado pelos indígenas de Roraima.
Portanto, senhores Ministros do Supremo Tribunal Federal, chega de cinismo: 10 indígenas foram violentamente atacados por tiros de espingarda calibre 16, na comunidade Renascer - Terra indígena Raposa Serra do Sol, por jagunços dos coronéis de barranco, liderado por Paulo César Quartieiro, no dia 05/05/2008 - e os senhores ministros não dizem nada... Diz Bessa Freire em seu texto: O Lobo e o Cordeiro: "a razão truculenta do mais forte prevalece, quando a lei não é respeitada".
Destaco, que as terras onde vivem os Macuxi, Wapichana, Ingarikó, Taurepang, Patamona, Wai-wai, Yanomami, Waimiri-Atroari, YeKuana - 40 mil indígenas - são terras ocupadas milenarmente, são terras ancestrais, cujo o direito e reconhecimento são garantidas por leis internacionais e pelo Estado Brasileiro. Os povos indígenas não são invasores, não são separatistas, querem somente, como qualquer outro cidadão brasileiro, o direito de viverem dignamente, dentro de seus padrões culturais, como assegura a Constituição de 1988.
Finalizo, citando a frase de um antigo sábio Macuxi:
"alguns homens agem feito gafanhotos em nossas terras - vem come, destroem e vão embora, deixando o roçado destruído... Agem feito o formigão Tracoar, cuja fome e tão absurda que comem toda a floresta e animais. E, com muita sede, secam os rios, destruindo a morada dos peixes. Feito tatus vorazes, brocam e remexem a terra em busca de mais alimentos (minérios), despejando seus excrementos (agrotóxicos, mercúrios) nos rios matando os peixes. Insaciáveis, furam a terra, libertando os espíritos causadores de doenças (dengue, cólera, mlaria)que se espalham pelo ar e pelos rios..."
E afirmo outra: "Terra Livre: resistir até o último índio".
Ely Macuxi.
http://www.paulohenriqueamorim.com.br/materias125.asp
http://www.pgr.mpf.gov.br/pgr/imprensa/iw/nmp/public.php?publ=5195
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2008/05/419046.shtml
Bruno Nery é estudante de História na UFPE e, infelizmente, não tem nem idéia do que vem no Futuro.
quarta-feira, 7 de maio de 2008
Isabella
vou fazer uma consideração que me inquieta sobre o caso,(sim, tambem acabo sendo um escravo da midia)mas antes vale mencionar algo.
Este caso sim, é repugnante. independente de qm foi, torutrar e atirar uma menina da janela é algo chocante, mas este caso nao chega a chocar os pernambucanos que assistem "cardinot" nao é?
ou um cidadao de qualquer outro estado que possua um programa tao "avacalhado" como este.
não entendo pq tanta atençao a isabella, qnd em cardinot todos os dias,casos semelhantes e até mais chocantes sao ignorados pela grande midia.
algumas chamadas de seu programa na televisao. "menina de 7 anos é estuprada durante uma semana por dois homens de 50 anos e depois é assassinada e jogada no rio"
"bebê de 3 anos é estuprada por rapaz de 21 anos"
"execuçao de 10 jovens na favela durante operaçao policial, desova dos corpos a 30km da favela em dois irmaos"
Pois é, casos parecidos, piores, e pq ngm fica sabendo? vai ver pq isabella eh de classe media.
Pra pensar...
Se eu fosse matar minha filha, ou ela morresse por "acidente" apos ser espancada por mim e minha mulher,ou por ela,tanto faz... Eu TENHO certeza q eu nao iria pro MEU apartamento pra atirar ela da janela da minha casa.
nao faz o menor sentido.
uma opçao nao muito sofisticada seria...
colocar a menina morta ou inconciente num saco de lixo com pesos e afunda-la no rio... depois era simples, ligava pra policia e forjava um sumisso ou um sequestro...
tantas opçoes...
pra mim, essa historia continua sem sentido. nao to defendendo ngm até pq n fui com acara dos nardoni, mas vamos esperar, existem pessoas mais capacitadas que eu pensando nisso e se basiando em fatos e analises.
vai ver eu q tenho um "Que" de psicopata.
Thiago Carvalho é: Estudante de Filosofia da Unifesp. E Suspeita ser Um Psicopata em Potencial.
Por que política?
O homem carrega consigo o peso da "insociável sociabilidade" de Kant e isso faz com que ele não possa prescindir dos outros nem renunciar por eles ao prazer dos seus próprios desejos. Ser social é viver dentro dos muros da política.
A política nasce para mediar conflitos e é por isso que precisamos de um Estado. Trazendo um pouco Hobbes, precisamos de política não porque os homens são bons ou justos, mas porque não são. E isso é a própria política: a história em via de se fazer, de se desfazer, de se refazer, de continuar; a história no presente, a nossa história e, fatalmente, a única. Como não´se interessar por política? Seria não se interessar por nada, posto que tudo depende dela.
Fazer política é a arte de vivermos juntos, num mesmo estado ou cidade, com indivíduos que não escolhemos, pelos quais não temos nenhum sentimento particular e que são, sob muitos aspectos, nossos rivais, tanto quanto ou até mais do que aliados. A política é, portanto, uma tentativa - a mais eficaz até hoje - de garantir a convivência entre as pessoas, um acordo sobre a maneira de solucionar desacordos.
A política supõe a discordância, o conflito, a contradição. Quando todos estamos de acordo sobre algo, não se faz necessária a política. E é essa a questão! O ser humano é, por si só, discordante e a política nos reúne dessa forma, a partir dessa oposição entre os indivíduos: ela nos opõe sobre a melhor maneira de nos reunir. Isso não tem fim. Engana-se quem anuncia o fim da política, pois seria o fim da humanidade, o fim da liberdade, aflorar-se iam os egoísmos individuais e seriam impossível viver em sociedade. A política é, ao mesmo tempo, um combate e a única paz possível.
O que é então a política? É a própria vida comum e conflituosa sob o domínio do Estado e por seu controle; é a arte de tomar, de conservar, de utilizar o poder. É também a arte de compartilhá-lo, mas porque, na verdade, não há outra forma de tomá-lo.
Se interessar por política ou, ao menos, tentar entender seu propósito é não cair na mediocridade de considerá-la algo desprezível, ou pior, algo que "não é da sua conta", que lhe é alheio. Desculpe decepcioná-lo, mas há muito que você leitor faz parte dessa esfera política. Há muito que comunga de pensamentos e atitudes políticas mesmo sem dar-se conta. Cabe a cada um escolher a atividade ou a passividade e, nessa escolha, não há inocentes.
Quanto aos que fazem da política sua profissão, temos de lhes ser gratos pelos esforços que consagram ao bem comum, sem contudo nos iludirmos muito sobre a sua competência e virtudes. A vigilância faz parte dos direitos humanos e dos deveres do cidadão, entretanto, essa vigilância é direito, repito, dos cidadãos (sem esquecer de fazer uma auto-reflexão sobre o seu grau de cidadania a nível político, por favor). Não se deve confundir essa vigilância republicana com ridicularização, que torna tudo ridículo, nem com desprezo, que torna tudo desprezível. Ser vigilante é não crer cegamente nas palavras do político, mas não é condená-los ou denegrí-los por princípio. Não conseguiremos reabilitar a política, como é urgente hoje em dia, cuspindo perpetuamente em quem faz política. No Estado democrático, temos os homens políticos que merecemos.
Isentar-se da responsabilidade política é renunciar a uma parte de seu poder, o que é sempre perigoso, mas também é renunciar a uma parte de suas responsabilidades, o que é sempre condenável. O apoliticismo é, ao mesmo tempo, um erro e uma culpa. É ir contra seus interesses e seus deveres.
Outra tendência ingênua é confundir política com moral. Digo ingênua porque até tende ao romantismo. Reduzir política à moral seria um equívoco. É como se ela se ocupasse do bem, da virtude, do desinteresse. O contrário talvez fizesse mais sentido. Pois bem...se a moral reinasse, não precisaríamos de política, de leis, de tribunais, de forças armadas... de Estado! O que implica dizer que não existiria a política, pois ela não teria razão de ser. Contar com a moral para vencer problemas sociais é uma visão utópica da realidade. Com isso, não tiro a importância do humanitarismo, da caridade, etc; mas é preciso perceber que não são o bastante.
Em princípio, para diferenciar política de moral é importante perceber que a moral não tem fronteiras, a política tem! A moral não tem pátria; a política tem! Para a moral só existem os indivíduos, a humanidade. Ao passo que qualquer política, européia ou brasileira, de direita ou de esquerda, só existe, ao contrário, para defender um povo, ou povos, em particular. Você poderia preferir que a moral bastasse, que a humanidade bastasse. Você poderia preferir que a política não fosse necessária, que não existisse; mas estaria se enganando sobre a história e se mentindo sobre nós mesmos.
A política não é o contrário do egoísmo ( o que a moral é), mas sua expressão coletiva e conflituosa: trata-se de sermos egoístas juntos e da melhor maneira possível. Organiza-se para isso convergências de interesses e é isso que se chama de solidariedade ( o que se diferencia de generosidade, que supõe, ao contrário, o desinteresse). A solidariedade é, portanto, uma maneira de se defender coletivamente; a generosidade, no limite, é uma forma de se sacrificar pelos outros. É por isso que a generosidade, moralmente falando, é superior; e é por isso que a solidariedade, social e politicamente, é mais urgente, mais realista, mais eficaz. Ninguém para a Seguridade Social por generosidade. Ninguém paga seus importos por generosidade. E que estranho sindicalista seria aquele que se associaria a um sindicato unicamente por generosidade, não? No entanto, a Seguridade Social, o sistema tributário e os sindicatos fizeram mais pela justiça (muito mais!) do que o pouco de generosidade de que este ou aquele, vez ou outra, deu prova. O mesmo vale para a política: ninguém respeita a lei por generosidade, ninguém é cidadão por generosidade. Contudo, o direito e o Estado fizeram muito mais para a justiça ou para a liberdade do que os bons sentimentos. Em suma, a generosidade é uma virtude moral;a solidariedade é uma virtude política. E, por suposto, a política não é bem o reino da moral muito menos do amor. É o espaço reservado para as relações de forças e de opiniões, dos interesses e dos conflitos de interesses. Dessa forma, a política não é uma forma de altruísmo, é um egoísmo inteligente e socializado. Isso não só não a condena como também a justifica. E isso prova que, apesar de não se oporem política e moral, tampouco se confundem: a moral, em princípio, é desinteressada; nenhuma política o é. A moral é universal, ou assim pretende; toda política é particular. A moral é solitária; toda política é coletiva.
Uma eleição, por exemplo, não opõe bons e maus. Opõe campos, grupos sociais ou ideológicos, partidos, alianças, interesses, opiniões, programas, propostas... Ok, há votos moralmente condenáveis (é bom lembrar), mas isso não poderia fazer esquecer que a moral não faz as vezes nem de projeto nem de estratégia.
Não pretendo aqui negar a importância da moral, apenas mostrar que ela leva o indivíduo a posições: "Você é a favor da justiça e da liberdade?" Sujeito moralmente correto: "sim!". Aí vem a política e pergunta: "Como construir isso?". Ora, para a política é o "como" que importa. A moral é o mínimo que se espera de você! Não basta esperar justiça, liberdade e tantas outras coisas. A política diz que é preciso agir, utilizar-se do "como". A história não é um destino nem somente o que nos faz. Ela é o que fazemos, juntos, do que nos faz, e isso é a própria política.