segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Pamonhas, pamonhas, pamonhas

Pamonhas, pamonhas, pamonhas


De Piracicaba, São Paulo, Campinas, qualquer lugar. Poderia até ser na Finlândia se eles tivessem o milho, a tecnologia rudimentar e o jeitinho necessários para produzir esta iguaria. De saborosa pode chegar a ser odiada, especialmente nas cidades, bairros e casas violentamente invadidas pelo insistente megafone, pelas caixas de som de tamanho descomunal plantadas sobre carros velhos que passeiam e, sem a menor cerimônia, martelam em nossos ouvidos a palavra pamonha.

Se fosse só pamonha, ainda haveria uma desculpa, mesmo sem saber qual seria, mas o que acontece é que essa prática está prevista em lei[1][1] também em Campinas:



Lei 2.516 de 16/06/1961-"Artigo 1.1.01 - É proibido perturbar o bem-estar e o sossego público ou da vizinhança, com ruídos, algazarras, barulhos ou sons de qualquer natureza, produzidos por qualquer forma, que ultrapassem os níveis máximos de intensidade tolerados por esta Lei." - Obs: A Lei 2.516, não discorre o limite de decibéis no seu texto. Lei 8.861 de 19/061996- "Artigo 11- (Alterado pela Lei n° 10.491, de 19/04/2000) Os equipamentos ou aparelhos causadores de perturbação do sossego público poderão ser lacrados, ou apreendidos, ou multados, por fiscais de serviços públicos, quando não houver atendimento à intimação, que deverá ser cumprida no prazo máximo de 24 horas".



De cidade para cidade o nível máximo de decibéis difere, inclusive para períodos diferentes. Pamonha, abacaxi, melancia, conserto de panelas. É barato para o empreendedor barulhento. Ele não paga aluguel e nem os impostos normais referentes ao seu negócio, a não ser os que estão embutidos na compra do produto e da gasolina. Pode ser às 7 da manhã, às duas da tarde, às 7 da noite no horário de verão. É só andar bem devagar e gritar para a freguesia que, se não entender o que foi dito, não tem problema, sairá à rua só para ver o que acontece lá fora, porque tanto barulho.

Parece que essas pessoas não têm em suas casas bebês dormindo, pais idosos doentes, filhos cansados por que trabalham no turno da noite numa fábrica também barulhenta. Parece normal e razoável que nossas casas vibrem com barulhos da rua. Há também os motoqueiros, funkeiros de plantão chacoalhando seus carros com portas abertas exigindo que o mundo ouça o que eles querem. ("o gosto musical do vizinho é sempre suspeito" - LFV)

Como para a maioria dos assuntos relativos à cidadania, falta de respeito é o que há de mais relevante. Mesmo infringindo regras de condomínio, furadeiras fora de hora tiram de moradores o sossego das tardes de domingo. Reclamações, processos internos e judiciais são movidos pelas mais diferentes razões. Latidos de cachorros, brigas de casal, bebês chorando, às vezes são incontroláveis ou ninguém quer – ou deve – meter a colher. Impera aí o bom senso de barulhentos e ouvintes.

Os serviços de fiscalização, como os “156” ou números de telefone disponíveis, não o são com frequência, especialmente em feriados e finais de semana quando os ânimos estão mais exaltados e as baladas comandam o comportamento de pessoas criadas com mais liberdade do que deveriam.

Não se pode contar com quase ninguém. O jeito é fazer a parte que cabe a cada um. Quem sabe do “de grão em grão” teríamos momentos de paz em decibéis baixos dentro de nossos lares.

Como num filme da Broadway, tudo seria lindo se fosse lindo! Claro que a pressa, o mau humor coletivo no trânsito, problemas em casa e no trabalho fazem com que queiramos mais tranquilidade. Descontentamentos são extravazados de formas diferentes. Uns se calam, outros aumentam o volume! Certa vez, o Maestro Zubin Mehta quando em visita ao Brasil, disse: “Vídeo clipes são até legais quando abaixamos o volume”.

Seria bucólico assistir ao caminhão das pamonhas apenas passando, sem barulho. Quem sabe pudéssemos nos deliciar mais vezes com a pamonha? Sem alarde, como fariam os mineiros ou os finlandeses, em silêncio.



Ana Carla Vannucchi é fotógrafa e colabora com publicações e sites escrevendo sobre fotografia e inclusão

carlavannucchi@uol.com.br

http://carlavannucchi.blog.uol.com.br

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