terça-feira, 30 de setembro de 2008

Ecobag na mão e consciência ambiental na cabeça.

Na sociedade de consumo na qual estamos inseridos, uma simples saída rápida pode significar muitas compras e uma quantidade considerável de sacolas plásticas à mão. E foi pensando nisso que alguns estabelecimentos comerciais resolveram aderir às ecobag´s.
Confeccionadas geralmente em fibra de algodão cru, resistentes e charmosas, além de ecologicamente corretas, as ecobags estão sendo adotadas por consumidores mais conscientes, ao mesmo tempo em que são lançadas campanhas incentivando o seu uso. No Brasil, principalmente em estados pequenos como o Rio Grande do Norte, ainda é novidade. Mas no exterior as bolsas ecológicas já existem como alternativa para as sacolas plásticas há anos.
A preocupação em disseminar a idéia vem despertando a criatividade de estilistas para a confecção dessas sacolas que, então, deixam de ter apenas um significado utilitário para, também, representar uma novidade estética, despertando o interesse do público feminino. Dessa forma, unir moda com responsabilidade ambiental tornou-se uma ferramenta para atrair consumidores, além de levar os indivíduos a adotarem uma postura ecologicamente sustentável a partir de pequenas atitudes.
Um exemplo dessa satisfatória tendência aconteceu na Livraria Cultura de Recife. O estabelecimento obteve grande aceitação por parte do público, esgotando o primeiro lote das sacolas ecológicas em pouquíssimo tempo. As bolsas são confeccionadas em lona natural e, como estampa, carregam imagens e nomes de personalidades de destaque nas ciências e artes em geral. O preço pode parecer um tanto salgado – R$10 – se pensarmos que precisaríamos de mais de uma unidade para satisfazer nossas necessidades de consumo, entretanto, o produto ainda está em fase experimental e deve, em breve, atingir um valor menor.
A idéia é adotar a filosofia das feiras livres, onde cada freguês leva a sua própria bolsa de casa. Nos supermercados, por exemplo, cada cliente representa uma quantidade enorme de sacolas plásticas por comprar, o que seria evitado com o uso de bolsas de pano trazidas por cada um. O Bompreço já incorporou a novidade e promete investir na divulgação da idéia para que seus clientes tornem-se, de fato, usuários.
Atitudes como essas, aos poucos, vêm ganhando espaço no Brasil e vão configurando uma espécie de política ambiental, em que cada indivíduo assume uma postura socialmente responsável, construindo a possibilidade de vivermos dentro de um sistema que pode vir a ser plenamente sustentável.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Busca na Unifesp

Busca na Unifesp Foram recolhidos computadores e documentos na administração. Decisão da Justiça Federal veio após denúncia do SPTV.


O Ministério Público fez uma operação, nesta quinta-feira (18), para recolher computadores e documentos na administração da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Segundo a promotoria, a Justiça determinou a busca e a apreensão na universidade porque havia indícios de que provas estavam sendo destruídas.
A decisão da Justiça veio depois de denúncias feitas pelo SPTV, que mostrou que funcionários da Unifesp apareciam no banco de dados do SUS como se tivessem dois empregos. Até funcionários que morreram há mais de três anos apareciam na lista, como se ainda trabalhassem.
A antiga direção da universidade, que pediu demissão há três semanas, é investigada pelos crimes de falsidade ideológica, estelionato e peculato, que é o uso indevido do dinheiro público.
Auditoria da CGU identifica novas irregularidades
Controladoria diz que universidade pagou aluguel com dinheiro público.
Imóveis eram usados por instituição privada.
O SPTV teve acesso a informações de um relatório da Controladoria Geral da União (CGU) que aponta novas irregularidades nas contas da Unifesp. A universidade pagou com dinheiro público o aluguel de imóveis para a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), entidade privada que administra o Hospital São Paulo.
A presidência da SPDM era formada pelos mesmos integrantes da reitoria da Unifesp. Sérgio Tufik, ex-vice-reitor da universidade, deixou a vice-presidência da SPDM nesta terça-feira (9). A entidade já estava sem presidente há duas semanas, quando Ulysses Fagundes Neto renunciou ao cargo de reitor da universidade após denúncias de uso indevido de verbas públicas.
A troca da presidência da SPDM acontece às vésperas da divulgação do resultado de uma auditoria feita pela Controladoria Geral da União na Unifesp. O relatório apontou novas irregularidades nas contas da universidade e em sua relação com a entidade privada que administra o Hospital São Paulo.
Os contratos de aluguel de imóveis que ficam perto do hospital e dos campi da Unifesp na Vila Clementino, na Zona Sul de SP, são um dos principais problemas apontados pela auditoria da CGU.
Um dos contratos diz respeito a um prédio que fica na Rua Diogo de Faria, 1.036. No local, funciona a administração da SPDM, mas quem paga o aluguel do imóvel, quase R$ 50 mil por mês, é a Unifesp, com dinheiro público. No relatório, a CGU sugere que a entidade devolva R$ 724 mil, que foram gastos nos últimos anos com o imóvel. A Unifesp informou que nos próximos dias vai transferir o contrato do imóvel para a SPDM
Em meio à crise, a Unifesp recebeu uma boa notícia. Segundo um novo indicador do Ministério da Educação, a universidade foi considerada a melhor do país. No entanto, alunos da universidade que estudam em outras cidades não concordam e resolveram protestar na capital paulista.
“No campus de Guarulhos [Grande SP], falta professor, falta biblioteca, nós não temos bandejão, não temos acesso, não temos moradia”, reclama o estudante de ciências sociais Tales Bernardes.
www.cbn.com.br


Obrigado Suely ;)

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

VEJA, QUE VERGONHA

A degradação jornalística da revista Veja foi fruto de dois fenômenos simultâneos que sacudiram a mídia nos últimos anos: a mistura da cozinha com a copa (redação e comercial) e o afastamento dos princípios jornalísticos básicos.

Vamos analisar um processo de cada vez.

A copa e a cozinha
Os grupos de mídia sempre tiveram interesses paralelos em jogo. Para não contaminar as redações, se procurava tratar em âmbito das cúpulas das empresas. Sempre havia maneiras “técnicas” de vetar determinadas matérias que não interessavam, assim como conferir tratamento jornalístico a matérias de interesse da casa.

Para administrar esse território delicado, as boas redações jamais prescindiram de comandantes fortes e competentes. São os avalistas do jornalismo perante a empresa e da empresa perante a redação. Não vão contra a lógica comercial, mas são os radares, aqueles que informam até onde se pode avançar no noticiário sem comprometer a credibilidade da publicação.

Após a crise cambial de janeiro de 1999, o quadro começou a mudar. Apertos financeiros levaram gradativamente muitas publicações a abrirem mão de cuidados básicos, não só permitindo a promiscuidade entre a copa e a cozinha (redação e comercial), mas também manobras de mercado. Quanto às manobras de mercado, deixo apenas registrado, porque não será tema dessa série.

No início de 1999, um episódio marcaria os novos tempos de Veja. Em 10 de março de 1999, em pleno escândalo das “fitas do BNDES”, a revista recebeu material demonstrando que a Previ tinha assinado acordo com o banco Opportunity, de Daniel Dantas, mesmo tendo sido desaprovado por sua diretoria. A matéria foi feita pelo repórter Felipe Patury (clique aqui).

"No início de fevereiro, um diretor do fundo, Arlindo de Oliveira, mandou uma carta ao presidente da Previ. São três páginas, e o tom é de indignação, expresso em frases que se encerram com três pontos de exclamação. Na carta, o diretor relata que a diretoria da Previ, reunida em julho do ano passado, decidiu que não faria parceria com o Opportunity no leilão das teles tendo de pagar ao banco 7 milhões de reais por ano de "taxa de administração". A diretoria achou o valor descabido e decidiu só fazer o negócio se não tivesse de pagar a taxa. O estranho é que essa decisão foi ignorada. A Previ associou-se ao Opportunity na compra de três teles (Tele Centro Sul, Telemig Celular e Tele Norte Celular) e comprometeu-se a arcar com os 7 milhões de reais por ano, apesar da decisão contrária da diretoria".

Segundo a matéria, a Previ também havia entrado – sem autorização da diretoria – na operação de compra da Telemar que – na época – pensava-se que sairia para o Opportunity.

Na semana seguinte, o repórter conseguiu mais material das suas fontes. Chegou a preparar a matéria. Uma semana depois, na edição de 17 de março de 1999, a matéria não saiu publicada. Mas, pela primeira vez, o banco Opportunity – denunciado na edição anterior – bancou duas páginas de publicidade na revista

Não batia. O Opportunity não é banco de varejo, não atua sequer no middle market, não havia lembrança de publicidade dele nem mesmo em revistas especializadas – como a Exame.

No dia 31 de março de 1999, mais duas páginas de publicidade do Opportunity.

Esse mesmo procedimento – em mão inversa – seria empregado nas duas edições em que Diogo Mainardi me atacou, em defesa de Daniel Dantas. Só que, nesses casos, a fatura foi mais alta: 6 páginas de publicidade da Telemig Celular e Amazônia Celular em cada edição, 12 ao todo. Também não se justificava tamanho investimento publicitário por parte de empresas que tinham atuação regional.

Qualquer manual de administração ensina que, quando a empresa passa a fugir do comportamento ético nas suas ações externas, acaba contaminando toda a estrutura.

Aparentemente, ocorreu um liberou geral na revista. É o que explica as atitudes de Eurípedes com Eduardo Fischer ou as de Mário Sabino manipulando listas de livros mais vendidos para incluir o seu. E o lobby escancarado da revista em favor de Daniel Dantas, especialmente através das colunas de Diogo Mainardi.


Com escorregões cada vez mais freqüentes, tornou-se difícil – mesmo para os leitores mais atilados – identificar o que eram falhas editoriais, interesse da Abril ou interesse dos diretores da revista.

Havia um fator a mais a estimular a falta de controle: a desobediência ampla aos princípios jornalísticos básicos. E aí se encontra um farto material sobre o mais completo compêndio de anti-jornalismo que a história moderna da mídia brasileira registrou: o estilo Veja de jornalismo.

Desde os anos 80, cada vez mais Veja se especializaria em “construir” matérias que assumiam vida quase independente dos fatos que deveriam respaldá-las. Definia-se previamente como “seria” a matéria. Cabia aos repórteres apenas buscar declarações que ajudassem a colocar aquele monte de suposições em pé.

Essa preparação prévia da reportagem ocorre toda segunda-feira nas reuniões de editores. É chamada de "pensata".

O que era um estilo criticável, com o tempo acabou tornando-se uma compulsão, como se a revista não mais precisasse dos fatos para compor suas reportagens. Ela se tornou uma ficção ampla, algo que é de conhecimento geral dos jornalistas brasileiros.

Ainda nos anos 80, o caso mais célebre foi o do “boimate” – criação de Eurípedes Alcântara, já mencionado em outro capítulo.

Mas, à medida que se entrava na era Tales Alvarenga- Eurípedes- Sabino, final dos anos 90 em diante, esse estilo ficcional passou a arrostar os limites da verossimilhança.

O primeiro filtro sobre uma matéria é avaliar se os fatos relatados são verossímeis. Se passar nesse teste básico, é que se irá conferir se, mesmo sendo verossímeis, também são verdadeiros.

Com o tempo, tornaram-se cada vez mais freqüentes as matérias absurdas, sem nexo, sem conhecimento básico sobre economia, finanças, valores, relações de causalidade. Sobre jornalismo, enfim.

O modelo Veja de reportagem

Antes de análises de caso, vamos a uma pequena explicação sobre como é esse modelo Veja de reportagem.

1. Levantam-se alguns dados verdadeiros, mas irrelevantes ou que nada tenham a ver com o contexto da denúncia, mas que passem a sensação de que o jornalista acompanhou em detalhes o episódio narrado.

2. Depois juntam-se os pontos, cria-se um roteiro de filme, muitas vezes totalmente inverossímil, mas calçado nos fatos supostamente verdadeiros.

3. Para “esquentar” a matéria ou se inventam frases que não foram pronunciadas ou se tiram frases do contexto ou se confere tratamento de escândalo a fatos banais. Tudo temperado por forte dose de adjetivação.

O caso "boimate" é clássico. Depois de cair no conto de 1o de abril da New Scientist - sobre um cruzamento de boi com tomate que resultou em uma carne com molho -, envia-se um repórter para obter uma frase de efeito de um cientista da USP.

O repórter perguntou o que o cientista achava. A resposta foi que era impossível tal experimento. O repórter tinha que voltar com a frase que se encaixasse na matéria, então insistiu: "E se fosse possível!". O cientista, ironizando: "Seria a maior revolução da história da genética".

A matéria saiu com a frase do infeliz dizendo que era a maior revolução da história da genética.


Dentre todos os repórteres, no entanto, nenhum se esmerou mais na arte ficcional do que Policarpo Júnior, recentemente promovido a Diretor da Sucursal de Brasília. Assim como Lauro Jardim e Mainardi cultivam os lobistas cariocas, Policarpo é um freqüentador habitual do submundo de Brasília, convivendo com arapongas, policiais e lobistas em geral.

Vamos a alguns exemplos pré-governo Lula para entender, na prática, em que consiste esse estilo Veja, a partir de algumas obras de Policarpo.

O caso Chico Lopes

Em janeiro de 1999, quando houve o estouro no câmbio, seguiu-se uma catarse geral na mídia, uma busca de escândalos a qualquer preço. Foram publicados absurdos memoráveis que acabaram se perdendo no tempo – como o de que Fernando Henrique Cardoso se valia do seu Ministro-Chefe da Casa Civil Clóvis Carvalho para informar os banqueiros sobre as mudanças cambiais.

O escândalo refluiu, cada publicação tratou de esquecer as ficções que plantou e a vida prosseguiu.

Na época, Veja publicou uma capa acusando Chico Lopes de ter beneficiado os bancos Marka e FonteCindam com informações privilegiadas. Chegou a afirmar que quatro bancos pagavam US$ 500 mil mensais para ele (clique aqui).

A matéria não respondia à questão central: se os dois bancos recebiam informações privilegiadas de Chico Lopes, se Chico assumiu a presidência do Banco Central com a missão precípua de mudar a política cambial porque, raios!, apenas eles quebraram na mudança? Na época, a explicação de Veja já era absurda. Assoberbado com os problemas da mudança cambial, Chico tinha se esquecido de avisar seus clientes (que lhe pagavam US$ 500 mil mensais apenas para ter aquela informação).

O mistério persistiu até o dia 23 de maio de 2001 quando saiu a capa da Veja “A História Secreta de um Golpe Bilionário” um clássico à altura do “boimate”, de Eurípedes Alcântara (clique aqui).



A abertura nada ficava a dever a um conto de Agatha Christie.

O momento mais dramático do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso ocorreu no dia 13 de janeiro de 1999.(...) O que ninguém sabia é que, desde aquele dia, um grupo reduzidíssimo de altos membros do governo passou a guardar um segredo de Estado, daqueles que só se revelam vinte anos depois da morte de um presidente. Após quatro meses de investigação e 22 entrevistas com catorze personagens envolvidos, VEJA desvendou peças essenciais para o esclarecimento do mistério, que resultou na inesperada, e até hoje inexplicada, demissão do presidente do Banco Central apenas duas semanas depois da desvalorização.

A demissão de Lopes tinha sido mais que explicada: os erros na condução da mudança da política cambial.

O então presidente do Banco Central, o economista Francisco Lopes, vendia informações privilegiadas sobre juros e câmbio – e uma parte de sua remuneração saía da conta número 000 018, agência 021, do Bank of New York. A conta pertencia a uma empresa do Banco Pactual, a Pactual Overseas Bank and Trust Limited, com sede no paraíso fiscal das Bahamas. Chico Lopes, como é conhecido, repassava as informações para dois parceiros, que se encarregavam de levá-las aos clientes do esquema. Os contatos entre os três eram feitos por meio de aparelhos celulares. A Polícia Federal suspeita que os números sejam os seguintes: 021-99162833, 021-99835650 e 021-99955055

Salvatore Alberto Cacciola, então dono do banco Marka, do Rio de Janeiro, descobriu todo o esquema por meio de um grampo telefônico ilegal e também passou a ter as mesmas informações privilegiadas. As fitas, que registram as conversas grampeadas, estão guardadas num cofre no Brasil – e há cópias depositadas num banco no exterior. Cacciola chegou a custear viagens a Brasília para que seu contato obtivesse, pessoalmente, as informações de Chico Lopes. Numa delas, seu contato voou do Rio a Brasília num jatinho da Líder Táxi Aéreo (o aluguel do jato saiu por 10 500 reais) e hospedou-se no hotel Saint Paul (a conta: 222,83 reais). Quebrado com a mudança cambial, que seu informante não conseguiu avisar-lhe a tempo, Cacciola desembarcou em Brasília no dia seguinte, 14 de janeiro de 1999, com o que chamou de "uma bazuca". Ela estava carregada de chantagem: ou o BC lhe ajudava ou denunciaria ao país a existência do esquema. O BC ajudou. Vendeu dólar abaixo da cotação e, no fim, Cacciola levou o equivalente a 1 bilhão de reais.

Era um furo fantástico! Em vez de pagar US$ 500 mil mensais, Cacciola descobrira o modo mais barato de obter informações privilegiadas: grampeando celulares.

Na mesma abertura se dizia que ele se informava através de um “grampo” e que tinha um informante.

Nem se fale do contra-senso de alguém experiente em mercado jogar todo seu futuro no resultado de um “grampo”. Qualquer decisão de mudança de política cambial seria imprevista, da noite para o dia. Como confiar toda sua vida financeira a um mero “grampo”?

Segundo a matéria, no dia aziago o grampo falhou e Cacciola quebrou. Indignado, foi tirar satisfações com Chico Lopes, que cedeu à chantagem.

Como foi montado esse nonsense?

Depois de “22 entrevistas com 14 personagens” envolvidos, Policarpo havia conseguido – de fato - as seguintes informações:

1. Com Luiz Cezar Fernandes, ex-controlador do Pactual, em briga com seus ex-sócios, o número da suposta conta-corrente do Pactual em Nova York de onde sairiam os supostos pagamentos para Chico Lopes. Na verdade o número apresentado era o de registro do banco na praça de Nova York, feito junto ao Banco de Nova York – equivale aquele 001 que você confere nos cheques do Banco do Brasil.

2. Na declaração de renda de Luiz Bragança (o suposto intermediário de Chico Lopes no vazamento das informações) algum araponga brasiliense levantou os números dos três celulares. Ou seja, o sujeito montava um esquema super-secreto para transmitir informações, que supostamente renderia US$ 500 mil mensais, valendo-se de telefones celulares – e colocava o numero dos aparelhos na sua declaração de renda.

Como tempero final, um apanhado de fatos e dos boatos mais inverossímeis que circularam por ocasião da mudança cambial.

Bastava isso para se para se ter um enredo que provocou gargalhadas em todos os jornalistas que cobriam a área financeira.

Na época apontei a maluquice; minha colega Mirian Leitão também. E menciono a Mirian por que, anos depois, essa crítica estimularia uma revanche de Veja: ataques continuados contra seu filho Matheus Leitão, repórter da revista Época. Essa história será contada em outro capítulo.

Citado na matéria, o economista Rubens Novaes enviou carta a Veja esclarecendo todos esses pontos. A carta jamais foi publicada. Ele limitou-se a enviar cópias para alguns jornalistas.

Longe de mim afirmar que não houve irregularidade, que Cacciola era inocente, ou mesmo colocar a mão no fogo por Chico Lopes. Na época, mesmo, divulguei indícios fortes de que Cacciola tinha, no mínimo, alguém que lhe passava informações sobre as taxas de juros praticadas pelo Central - e até sugeri a metodologia para identificar essa prática de "insider".

Mas era evidente que toda a matéria de Veja era uma ficção ampla.

Anote esse exemplo porque, longe de exceção, refletia um padrão de "jornalismo" presente em todas as coberturas bombásticas da revista.

Na era Eurípedes-Sabino, Policarpo, repórter de escândalos, freqüentador do submundo dos lobbies de Brasília, tornou-se diretor da sucursal da revista. E seria o autor das capas mais rocambolescas da cobertura do “mensalão”.

Coube a ele divulgar o vídeo em que o funcionário dos Correios, Mauricio Marinho, aceitou a propina de R$ 3 mil. E que deflagrou a campanha do “mensalão”.

Mas este é tema para um outro capítulo.



http://luis.nassif.googlepages.com/oestiloveja

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

De lorota é que se faz o Brasil.

Como se nada mais fosse capaz de me fazer rir, vêm as propagandas eleitorais gratuitas. É claro que elas são gratuitas. Quem pagaria pra vê-las?!

Esforçando-me para tirar alguma coisa desses discursos políticos, cheguei a conclusão – não tão brilhante assim – que é tudo uniformizado. Pegue um sorriso branco à la colgate, uma proposta óbvia de governo e uns punhados de photoshop e monte seu candidato “perfeito”. É isso que me
parece fazer política no Brasil hoje em dia.

Fico triste é em perceber que se lutou tanto pela democracia, pelo direito a ter direito de escolhas, por trazer o Brasil de volta para a gente e, hoje, vivemos é na ilusão dessas conquistas. Não temos absolutamente nada disso. Ou melhor, até temos, mas não sabemos o que fazer com tudo isso. Terminamos por jogar fora anos de luta e acabamos por enfiar embaixo da mesa o que nos resta de dignidade política, junto com os cascos de cerveja que regam todo e qualquer comitê político que se preze nos dias atuais.

Sem dar destaque a nenhum partido em especial, está aí decretado o festival de mentiras populistas pra quem quiser ver. É só ligar a TV nos horários nobres. Tão nobres que se passam a mostrar essas baboseiras sem tamanho. Cada qual que diga que vai fazer e acontecer, ou mesmo que fulano ou beltrano não vai conseguir fazer o que está dizendo porque está aliado à Cicrano,
que não vale nada por não sei o que mais lá.

Desconheço o que é fazer política de verdade. Essa política bonita que aparece nos livros eu nunca vi realmente. Acredito nela, mas nunca a vi se concretizando. Já nasci numa época em que as pessoas interiorizaram o fazer político como um conglomerado de brigas partidárias, onde fazer alianças e comprar votos no jeitinho brasileiro de ser garantem o sucesso deste ou daquele candidato.

Vereador é aquele cara que tem mais de mil pessoas no Orkut. Esse vai sim ter chance de se eleger e lutar por causas que a maioria das pessoas que o elegeram não sabem nem do que se tratam. É assim que funciona. Quantas pessoas você conhece que sabem quais são as responsabilidades de um vereador?! Eu conheço poucas, mas, em contra partida, conheço um punhado considerável de ilustres desconhecidos que pretendem abocanhar o posto!

Tenho medo, muito medo mesmo do que os meus filhos vão ver como propaganda eleitoral. Se já faço parte dos telespectadores que sentem aquela sensaçãozinha de VA (leia-se: vergonha alheia) quando se deparam com as figuras dessas eleições atuais, imagine como será daqui a uns 10 anos?! Tenho vergonha principalmente de mim mesma quando sinto graça da desgraça. É um veneno embebido na população do qual ela nem se dá conta. A acomodação a tudo isso é tão natural quanto sentar em frente à TV e buscar pelo seu programa favorito.

Por isso, nessas eleições, tire leite de pedra e boa sorte!

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Universidade Federal de São Paulo, em Crise

Estrutura caótica cria discussões que vão desde a base discentes e suas necessidades, até a reforma do estatuto.



É do conhecimento de todos, a crise vivida pela Unifesp atualmente, após a renuncia do reitor Ulysses Fagundes Neto. O vice-reitor, Sérgio Tuffic deveria assumir interinamente os 60 dias decorridos do estatuto para a escolha do novo reitor, porém, no dia 27/08 o vice-reitor e mais quatro pró-reitores renunciaram os cargos, resultando em uma crise jamais sentida nessa universidade, onde resultou mobilização estudantil e de funcionários insatisfeitos com os rumos adotados e autoritários advindos do conselhos universitário (CONSU), no qual indicaram um nome sem prévia consulta acadêmica para assumir o cargo até as eleições, o nome indicado foi o do professor Marco Pacheco Toledo Ferraz, do departamento de psiquiatria que precisa ser aprovado pelo Ministérios da Educação (MEC).
No entanto, os problemas não param por ai, após a expansão adotada pela Unifesp, surgiram diversas reclamações sobre problemas na estrutura pela qual os novos campi foram criados em 2007, no ano anterior em 08/11/2006 foi realizada uma reunião com o conselho universitário já prevendo os problemas a serem resolvidos, contudo, esses problemas permanecem até o presente momento e a abertura de dois novos cursos para o Campus de Guarulhos sem estrutura devida tem como acumulo uma crescente indignação por parte dos alunos, transformando o campus de humanas em uma panela de pressão, visto que não existem salas para suportar tal demanda, além disso, no antigo estatuto da universidade consta o seguinte; Artigo 2º - ?A UNIFESP/EPM tem por finalidade desempenhar, em nível de excelência, atividades inter-relacionadas de ensino, pesquisa e extensão, com ênfase no campo das ciências da saúde?, onde exatamente essa ênfase dada para a saúde preocupa os estudantes de todas as outras áreas, e não apenas isso, pois o (CONSU) segundo o mesmo estatuto também tem como meta aprovar a proposta orçamentária e a prestação de contas do Reitor, após a manifestação do Conselho de Curadores, ou seja, como o reitor renunciou devido a desvio de verbas e antes disso o próprio conselho universitário teria aprovado essas propostas orçamentárias os estudantes romperam de vez com esse conselho não mais reconhecendo o CONSU nem seu estatuto, é necessário lembrar que esse foi o mesmo conselho deliberativo das propostas do REUNI, cujo foi aprovado quando já havia a expansão dos CAMPUS, e sem prévia consulta a comunidade acadêmica, no que resulta essa abertura de novos cursos para cumprirem as metas propostas em seu termo, mas sem estrutura adequada para a criação, além da elevação da taxa de aprovação para 90%, no que muitos entendem como a famosa progressão continuada.
Portanto, hoje existe um impasse muito grande sobre os rumos adotados pela universidade, pois, a estrutura da Unifesp em sua expansão se encontra precária, o estatuto não abrange os demais cursos e fere diretamente o direito garantido pela Constituição do acesso a educação, já que não existe nos outros campus a assistência estudantil para permanência nos cursos previstas em lei, e o REUNI quebra o tripé indissociável do ensino, pesquisa e extensão, condições mínimas como o famoso bandejão não existe, e a moradia é considerado invalido, então alguns estudantes que vieram de outros estados para estudar em um nome privilegiado como o da Unifesp desistem ou pedem transferência, pois em suma a estrutura de garantia dos direitos inalienáveis de cidadão tornaram-se nessa universidade um verdadeiro caos.

Douglas Rodrigues "o Bozo".

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Os milhões da SPDM...

Os milhões da SPDM Após a queda de Ulysses Fagundes Neto do cargo de reitor da Universidade Federal de São Paulo, acusado de corrupção, resta saber como ficará a Sociedade Paulista Para o Desenvolvimento da Medicina – SPDM.
Ricardo Faria (*)



A Entidade é dirigida por Ulysses e outros professores da Unifesp também acusados de irregularidades. Se comprovadas as fraudes, professores e prefeitos que assinaram contratos com a SPDM podem terminar na cadeia.
Máfia de branco – Independente de cor partidária, a SPDM assumiu a administração de vários complexos hospitalares em diversas cidades como São Paulo, Campinas, Guarulhos, Campos do Jordão, São José dos Campos e outras. Os contrato, assinados sem concorrência pública, as chamadas terceirizações, envolvem quantias fabulosas, centenas de milhões de reais.
Títulos protestados – Entre as irregularidades apontadas, uma é muito grave, a SPDM "não possui aptidão para firmar avença [acordo] com o poder público", pois a associação" não tem a capacidade financeira". O argumento se baseia em levantamento em cartórios de São Paulo apontando que a SPDM tem 2.939 títulos protestados, num total de R$ 6,5 milhões, a maioria por não pagamento de compras realizadas. O levantamento foi realizado pelo "Iabrudi, do Val - Advogados Associados"
Guarulhos – Na cidade vizinha à Capital paulista, o prefeito é o petista Elói Pietá. Ele contratou os serviços da SPDM sem concorrência pública e virou alvo de uma ação judicial. O MP já pediu o cancelamento do convênio quando verificou que a SPDM possuía uma dívida de R$ 24,2 milhões com o governo.
Crime - Na ação encaminhada à Justiça Federal de Guarulhos, o promotor Ricardo Manuel Castro, afirma que a Entidade não poderia ser contratada pelo poder público por possuir débitos de R$ 23,2 milhões com o INSS (Instituto Nacional de Seguro Social) e de R$ 1 milhão com o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) contraídas entre 1998 e 2003.
Campinas - Um convênio de R$ 78,2 milhões firmado entre a Unifesp e a Prefeitura de Campinas (SP) para administrar um hospital inaugurado no dia 10 de junho pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva é alvo de uma ação popular que aponta uma série de irregularidades. A ação foi protocolada na Vara da Fazenda Pública de Campinas e pede a anulação do convênio.
São José dos Campos – O que acontecer com o prefeito de Guarulhos e Campinas poderá se repetir com Eduardo Cury, prefeito de São José dos Campos, acusado de ter assinado um contrato milionário (R$ 87 milhões) com a SPDM, em junho de 2006. Cury transferiu a administração do Hospital Municipal para a SPDM e, de lá para cá as reclamações se avolumam.
No último dia 2, entrevistamos o professor Jefferson Damasceno, diretor do Sindicato dos Funcionários Municipais de São José dos Campos que foi bastante claro a respeito do contrato de terceirização, assinado pelo prefeito Eduardo Cury: “A queda do reitor da Unifesp acusado de corrupção para nós não é novidade nenhuma. A direção da Unifesp e da SPDM é a mesma coisa. A segunda é uma OS, uma organização criada a partir de funcionários do primeiro e segundo escalão da Unifesp.
Trata-se de uma Entidade pública de direito privado, uma empresa como qualquer outra. Entendemos que essas pessoas da SPDM praticaram vários tipos de crimes como enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro, tráfico de influência etc.
Como vê a SPDM atuar em São José que é governada pelo PSDB e também em Guarulhos que tem um prefeito do PT? – Nós somos contra toda essa situação, principalmente da maneira como foi realizado o contrato em São José, sem licitação.
Como assim? – Na época, o Nacime Mansur, um dos diretores da SPDM, era professor em período integral, com regime de dedicação exclusiva na Unifesp e não poderia acumular funções, nós denunciamos esse e outros fatos.
Quem assinou o contrato pela prefeitura? – Foram o prefeito Eduardo Cury e a secretária municipal de saúde, Marina de Oliveira, que sequer é da área médica, e nem poderia exercer esse cargo segundo uma lei estadual .
Vocês entraram com ações na Justiça? – Temos várias ações judiciais, uma delas, na Justiça comum, contra a Marina por ela estar ocupando um cargo indevidamente. Temos uma ação no Ministério Público Federal e outra sendo julgada no Tribunal de Justiça de São Paulo contra a terceirização do Hospital Municipal.
Como aconteceu essa terceirização? Tudo foi feito na calada da noite, não houve consulta popular, o processo não foi transparente, não houve licitação nem concorrência pública exigida por por lei. Estranhamos o comportamento do prefeito. Ele diz ter as mãos limpas é herdeiro do ex prefeito Emanuel Fernandes que afirma ser essa uma cidade de leis e de regras, como podem ter dispensado a concorrência pública no caso do Hospital Municipal, sabendo que a SPDM devia e deve muitos milhões de reais na praça, inclusive ao INSS e ao FGTS.
O Nacime Mansur era do PSDB? – Ficamos sabendo que ele fazia parte do diretório estadual do PSDB na mesma época. Ou seja, foi um jogo de cartas marcadas.
O que o Ministério Público fala disso tudo? – O MP Federal abriu um procedimento que continua em fase de investigação. Na semana passada, tivemos uma reunião no MP e constatamos a tramitação dos processos, sem ,ainda, o julgamento do mérito.
Desde que a SPDM assumiu o Hospital Municipal, quais são as principais falhas? – Na verdade, o que presenciamos é uma ação entre amigos. Não contrataram profissionais, estão usando as verbas da prefeitura, até medicamentos dos servidores do Fame são levados para o Hospital Municipal. Sumiram algumas máquinas de lavar do tipo industrial.
Como assim? – Eram três máquinas novas que custaram caro, mais de um milhão de reais. Soubemos que elas estavam numa lavanderia no bairro das Chácaras Reunidas e de lá desapareceram. Deram sumiço no patrimônio público, tombado. A SPDM está atuando de maneira irregular
Prestação de contas – Fizemos, inclusive, denúncia ao Tribunal de Contas e ao MP, exigindo da Comissão Municipal de Saúde - COMUS – uma prestação de contas. Desde que a SPDM assumiu o Hospital, em junho de 2006, não houve prestação de contas.
Quem é a presidente do COMUS? – É a Meire Chilarducci, uma protegida do vereador Jorley do Amaral (DEM), prima da esposa do prefeito e também diretora do Provisão uma entidade privada que recebe muito dinheiro da prefeitura de São José.
É fácil falar com a diretoria da SPDM? – Encontrar algum diretor da SPDM em São José é difícil, principalmente depois que o Ministério Público caiu em cima deles lá em Guarulhos. Eles sumiram – são que nem gafanhotos, aparecem, devoram o que podem e vão para outro lugar. Existem muitas irregularidades que ainda não foram denunciadas.
E como vai ficar tudo isso? – Acho que a Justiça vai apurar tudo, a SPDM não vai conseguir cumprir o contrato, ainda assim a prefeitura não o rompe, comprovando a existência de uma conivência sistemática.
O CNPJ falso - O Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica encontra-se cancelado, a verdadeira inscrição da SPDM tem uma dívida junto ao INSS de cerca de R$ 21,7 milhões. Este fato, por si só, impede a contratação da empresa por um órgão público.
Posição do prefeito – Eduardo Cury e seus aliados já processaram o diretor do Sindicato, Jefferson Damasceno de Souza, o líder dos movimentos populares, Cosme Vitor, o presidente do PT de São José, Giba Ribeiro e os vereadores da bancada petista, Amélia Naomi, Wagner Balieiro e Tonhão Dutra, todos por denuncias feitas aos processos de terceirização da Saúde, da Educação, do Parque Tecnológico e por tornarem público os projetos dos super-assessores e do Estatuto da Guarda.
(*) Ricardo Faria – ricardo@vejosaojose.com.br




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quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Reflexão de hoje.

Homem não é aquele q tem coragem de pegar numa arma, e sim aquele que não precisa usa-la.





Se acharem algm que disse isso antes de mim....
não faço a menor ideia se fui eu que concebi essa síntese.

Thiago Carvalho é: estudante de filosofia da UFSP, e de teatro do INDAC.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

"Sou brasileiro mas não sou praticante"

A História deste país continental é formada por clichés, mentiras (se é que os clichés não já se tornaram mentiras), esperança e humor. Principalmente humor. É magnífico ver onze homens vestidos de amarelo e uma nação inteira depositando a esperança neles. É a pátria de chuteiras de Nélson Rodrigues. Magnífico e incomum são esses homens levarem seus apelidos ou nomes nas costas, ao contrário de todo resto do mundo que leva o sobrenome paterno nas espaldas. Usam amarelo, uma cor alegre por si só, são extrovertidos e informais, afinal eles rompem com formalidades e com o machismo de levarem o sobrenome como um peso nas costas. Têm um desejo olímpico de vencer: Quero dedicar essa vitória ao povo sofrido do meu país/ Quero pedir desculpa ao povo brasileiro por essa derrota, ele não merecia mais esse sofrimento.
Foi esse país de diferenças e informalidades que cunhou uma nova religião: o catolicismo sem prática. Podem ser cristão como metade da população mundial, mas o colonialismo com a sua cruz marcou tão profundamente a moral deste povo que este é até mesmo sem ser.
Por outro lado, só que do mesmo lado, é no paraíso que fica na terra onde se desenvolve as mais belas contradições(Somos pobres, a culpa é deles!): Fome, pobreza e corrupção. Tratar dessa tríade é ser cliché. O Brasil já está curado desse tipo de pequenice, afinal todos incluem aqueles que são excluídos de um jeito muito interessante: doações em dinheiro a mega empresa do ramo de comunicações. A Esperança depositada nas Crianças não combina com o que se diz de uma época em que o braço forte era a mão amiga da manipuladora.
Se somos uma espécie que estamos no meio dos invadores e dos primeiros habitantes desta terra, talvez fóssemos uns ninguéns. Eu sou alguém que é brasileiro mas de uma forma nova, o não praticante. Não quero no jeitinho, quero inteiro e não pela metade. Não quero samba nem mulatas rebolando. Quero de tudo e o todo.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Nina

Essas primeiras palavras de um magnífico filme brasileiro, livremente inspirando na obra Crime e Castigo de Dostoiévski, me chamaram muito a atenção. Eis:

"Eu tenho uma teoria. Os indivíduos se dividem em duas categorias: os ordinários e os extraordinários.
Os ordinários são pessoas corretas que vivem na obediência e gostam de ser obedientes.
Já os extraordinários são os que criam alguma coisa nova, todos os que infringem a velha lei, os destruidores.
Os primeiros, conservam o mundo como ele é.
Os outros, movem o mundo para um objetivo, mesmo que para isso tenham que cometer um crime."
(Filme "Nina"; Brasil, 2005)

Pamonhas, pamonhas, pamonhas

Pamonhas, pamonhas, pamonhas


De Piracicaba, São Paulo, Campinas, qualquer lugar. Poderia até ser na Finlândia se eles tivessem o milho, a tecnologia rudimentar e o jeitinho necessários para produzir esta iguaria. De saborosa pode chegar a ser odiada, especialmente nas cidades, bairros e casas violentamente invadidas pelo insistente megafone, pelas caixas de som de tamanho descomunal plantadas sobre carros velhos que passeiam e, sem a menor cerimônia, martelam em nossos ouvidos a palavra pamonha.

Se fosse só pamonha, ainda haveria uma desculpa, mesmo sem saber qual seria, mas o que acontece é que essa prática está prevista em lei[1][1] também em Campinas:



Lei 2.516 de 16/06/1961-"Artigo 1.1.01 - É proibido perturbar o bem-estar e o sossego público ou da vizinhança, com ruídos, algazarras, barulhos ou sons de qualquer natureza, produzidos por qualquer forma, que ultrapassem os níveis máximos de intensidade tolerados por esta Lei." - Obs: A Lei 2.516, não discorre o limite de decibéis no seu texto. Lei 8.861 de 19/061996- "Artigo 11- (Alterado pela Lei n° 10.491, de 19/04/2000) Os equipamentos ou aparelhos causadores de perturbação do sossego público poderão ser lacrados, ou apreendidos, ou multados, por fiscais de serviços públicos, quando não houver atendimento à intimação, que deverá ser cumprida no prazo máximo de 24 horas".



De cidade para cidade o nível máximo de decibéis difere, inclusive para períodos diferentes. Pamonha, abacaxi, melancia, conserto de panelas. É barato para o empreendedor barulhento. Ele não paga aluguel e nem os impostos normais referentes ao seu negócio, a não ser os que estão embutidos na compra do produto e da gasolina. Pode ser às 7 da manhã, às duas da tarde, às 7 da noite no horário de verão. É só andar bem devagar e gritar para a freguesia que, se não entender o que foi dito, não tem problema, sairá à rua só para ver o que acontece lá fora, porque tanto barulho.

Parece que essas pessoas não têm em suas casas bebês dormindo, pais idosos doentes, filhos cansados por que trabalham no turno da noite numa fábrica também barulhenta. Parece normal e razoável que nossas casas vibrem com barulhos da rua. Há também os motoqueiros, funkeiros de plantão chacoalhando seus carros com portas abertas exigindo que o mundo ouça o que eles querem. ("o gosto musical do vizinho é sempre suspeito" - LFV)

Como para a maioria dos assuntos relativos à cidadania, falta de respeito é o que há de mais relevante. Mesmo infringindo regras de condomínio, furadeiras fora de hora tiram de moradores o sossego das tardes de domingo. Reclamações, processos internos e judiciais são movidos pelas mais diferentes razões. Latidos de cachorros, brigas de casal, bebês chorando, às vezes são incontroláveis ou ninguém quer – ou deve – meter a colher. Impera aí o bom senso de barulhentos e ouvintes.

Os serviços de fiscalização, como os “156” ou números de telefone disponíveis, não o são com frequência, especialmente em feriados e finais de semana quando os ânimos estão mais exaltados e as baladas comandam o comportamento de pessoas criadas com mais liberdade do que deveriam.

Não se pode contar com quase ninguém. O jeito é fazer a parte que cabe a cada um. Quem sabe do “de grão em grão” teríamos momentos de paz em decibéis baixos dentro de nossos lares.

Como num filme da Broadway, tudo seria lindo se fosse lindo! Claro que a pressa, o mau humor coletivo no trânsito, problemas em casa e no trabalho fazem com que queiramos mais tranquilidade. Descontentamentos são extravazados de formas diferentes. Uns se calam, outros aumentam o volume! Certa vez, o Maestro Zubin Mehta quando em visita ao Brasil, disse: “Vídeo clipes são até legais quando abaixamos o volume”.

Seria bucólico assistir ao caminhão das pamonhas apenas passando, sem barulho. Quem sabe pudéssemos nos deliciar mais vezes com a pamonha? Sem alarde, como fariam os mineiros ou os finlandeses, em silêncio.



Ana Carla Vannucchi é fotógrafa e colabora com publicações e sites escrevendo sobre fotografia e inclusão

carlavannucchi@uol.com.br

http://carlavannucchi.blog.uol.com.br