quarta-feira, 4 de junho de 2008

Euforia Futebolística.

Nessas últimas semanas, encontrei em mim uma torcedora ridiculamente forjada. Posso estar sendo um tanto radical, mas é assim que sinto essa história de futebol em mim. Eu gosto, na verdade, do clima que ele trás, do oba-oba provocado, da euforia mesmo! Gosto de ver as bandeiras elevadas nos prédios, de escutar o barulho das buzinas dos carros anunciando o início do jogo, do coro uníssono das torcidas, dos fogos.

Essa história toda de futebol me fez lembrar de uma crônica - a qual não me recordo do título nem do autor no momento - onde colocava-se o esporte como um elo entre todos os brasileiros. Um verdadeiro símbolo que une o grã-fino da alta sociedade ao traficante das favelas do Rio de Janeiro numa espécie de êxtase que mascara os contrastes sociais. É uma pena que o veneno que corre no corpo do país seja muito mais letal do que pensamos e que essa mística do futebol se dissolva assim que o juiz apita o fim do jogo e começa a vida real.

No estádio, estabelece-se um verdadeiro feriado de dores e vergonhas. Poderíamos, inclusive, comparar ao delírio carnavalesco, quando nos livramos do peso de ser brasileiro para nos apropriar apenas do gozo de sê-lo. Ambos, acredito, são momentos de libertação!

A verdade é que não entendo nada de futebol, mas fico imaginando que metáfora representa. Que dizem os pés? Que buscam mostrar os dribles - ou finta? O que diabo é finta? De onde surgiu isso? Na tal crônica que eu li, levantava-se a possibilidade desses elementos serem uma homenagem inconsciente à tradição da capoeira e do samba. Bem, não sei. Pra mim, há algo de musical, há algo de harmônico: um coletivo de individualidades; improvisos que se somam para formar um conjunto. Winton Marsalis disse que no jazz “cada um tem sua expressão individual, mas tem de negociar com o interesse de todos, para uma boa harmonia — exatamente como na democracia...” A meu ver, essa definição encaixa-se perfeitamente ao futebol e a graça é exatamente essa.

O fato de tudo parecer estar nos conformes cria para nós a ilusão da vitória antecipada. Não estamos preparados para perder. Odeio perder. Afinal, quem perde ou ganha numa partida é a alma.

Fico imaginando, por exemplo, o jogador do time fracassado saindo de cabeça baixa, escutando o silêncio oco de sua torcida, (in)conformado; ou, ao contrário, o vitorioso que sai do campo ovacionado pela torcida que grita, desesperada, o hino do time. Um verdadeiro desfile de emoções.

Em campo, tentamos limpar os dejetos de nosso presente. Ali, perdemos o fôlego numa espécie de asma patriótica, tudo vale a pena: cantar, rezar, chorar, rir... tudo!

Além do crime, além da barbárie, existe um Brasil desejado e é sobre chuteiras e meiões que sustentam-se alguns dos nossos sonhos de felicidade. Quanta responsabilidade!

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