48 “MONSTROS” CONTRA O DR. ULISSES, O C-ORDEIRO.
“Esse silencio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa”.
Cálice – Chico Buarque, Gilberto Gil.
Deu no Jornal Nacional, no Fantástico, no Datena, Estadão, Folha, Brasil afora: Vândalos depredam reitoria da Unifesp em Vila Clementino.
De repente, como num passe de mágica, bocas tumulares, vêm à tona: baderneiros, destruidores do patrimônio público, monstros, etc. e tal.
Há todo tipo de reclamação. Desde os que não souberam da ação, por isso lamentaram ficar de fora; dos que não souberam da ação e não queriam mesmo saber; dos amantes da democracia aparente (que sempre guardam silencio sobre a ditadura da plutocracia); do corpo docente, que na prescrição do tempo lógico, converteram-se, eles próprios, na vulgaridade da lógica sem opinião. Enfim, toda uma gama de gente que, de uma forma ou de outra, viram sua querida instituição, a UNIFESP, convertida em manchete sensacionalista.
Eis aqui, por menor que seja, a importância da ocupação feita na madrugada do dia 14 de junho por estudantes, não por acaso, dos cursos de humanas.
Importância sim, pois, todos os senhores e senhoras enroscados na moral provisória cartesiana não podem continuar indiferentes, já que, pouco adiantara, até aquele momento, as denuncias da imprensa quanto à corrupção da cabeça da instituição UINFESP, Dr.Ulisses Fagundes Neto, figura imponente e que privatizou recursos públicos numa somatória que beira, até o momento, quase duzentos milhões de reais, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU).
PÚBLICO E PRIVADO:
Florestan Fernandes, intelectual sério e que ajudou a pensar o Brasil, em entrevista ao programa Roda-Viva nos idos de 94, disse que, na condição de deputado federal, aprendera mais sobre as famílias brasileiras (da elite), vertendo o que era público para seus respectivos e mesquinhos interesses pessoais na câmera federal, do que havia descoberto, por décadas, em seu trabalho teórico e investigativo.
Sergio Buarque de Hollanda costumava-se queixar que seu conceito de homem cordial aplicado por ele na conformação do Brasil sofrera distorção, de forma que se passou a entender o brasileiro como bonzinho, obediente ou coisa que o valha. É possível fazermos, em parte, essa leitura, porém, o fundamental visa outra abordagem, a saber, os interesses escusos familiares, particulares que adentram a esfera pública e de lá faz valer seus interesses pessoais.
Mas, dizer somente isso é faltar com o grande sociólogo. A questão é o emaranhado que dessa estrutura deriva, onde, hierarquicamente, os subordinados também têm seus interesses particulares, mas, para realizá-los, o caminho é a conivência e servilismo para com quem está no comando.
Disso resulta toda uma moral engendrada, pondo em marcha, na defesa da ordem, grande parte daqueles que na prática são as próprias vítimas, os contribuintes.
Via imprensa, o senso comum convoca seus voluntários e, para passar credibilidade, a imprensa, geralmente, trás parcialmente os fatos, enfatizando sempre a “invasão” do patrimônio público pelos tais vândalos, delinqüentes, etc., desfigurando-se, quase por completo, a natureza da qual motivou a ação.
Caberia perguntar o que faz pessoas que silenciam sobre corrupção pública encolerizarem-se contra, não o corrupto, mas, sim, contra aqueles que criaram um fato contrário à corrupção.
Provavelmente o homem cordial revela sua face nesses momentos. Face pálida, com as marcas da derrota, temeroso frente ao poder montado e, vítima dessa estrutura, como válvula de escape, prefere, em sua impotência, condenar quem não detêm o poder, salvo o poder de rebelar-se. A justificava psicológica, quiçá, venha do fato do ato do rebelado trazer à tona aquilo que esse acusador carrega em seu âmago (e gostaria de esquecer!), a condição de oprimido!
Eis aqui o que expressa esse senso comum nos versos de um Roberto Carlos: um erro não conserta o outro, é isso o que eu penso.
Para o nosso caso, o da UNIFESP, qualquer um pode perceber a quem serve o conselho universitário (CONSU), senão, validar os interesses do senhor Ulisses e seus sócios, punindo quem contra ele (s) se levanta.
Portanto, nada de anormal em constatarmos que seus respectivos membros afirmem a incerteza quanto à idoneidade ou não do reitor, apesar de suas 94 irregularidades. Porém, se desacreditam no Tribunal de Contas da União (TCU), alegando que são matérias tornadas públicas pela imprensa, agem em contrário quando condenam os estudantes, cujas informações obtiveram pela mesma imprensa. E tudo isso ostentando seus títulos de “doutores”, ainda que, cordialmente.
Inicio de inverno guarulhense
24/06/08
Assina: SEM-LUZ
Obra para ler: Raízes do Brasil (livro), Sérgio Buarque de Hollanda.
Obra para ver: Florestan Fernandes (entrevista), Programa Roda-Viva de 1994.
Obra para ouvir: Cálice (música), Chico Buarque e Gilberto Gil.
terça-feira, 24 de junho de 2008
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