Gurus são homens doentes. Antes de qualquer coisa por Guru entendo todo sujeito ou sujeita que se diz ou se mostra especial, que tem uma verdade universal a revelar, assim podemos incluir padres cantores showmans, bispos donos de mega-igrejas, facilitadores de grupo com postura de santo, santos em geral, ou melhor, santos de palco, terapeutas ou psicólogos com ar de santo, bonzinho ou super-amoroso. Enfim todo aquele que tem o famigerado Ego-santo, o pior tipo de ego existente.
Ego-santo é o mais difícil de identificar, por que justamente se traveste de “amorosidade”, sinceridade, experiências místicas, sabedorias e verdades universais. Infelizmente é o ego mais comum em meios terapêuticos, claro existem terapeutas, psicólogos, gurus, padres e pastores honestos e bem intencionados, mas são a exceção, a maioria dos gurus não vale a rima.
Gurus não são doentes só por que enganam, mentem, manipulam e etc, mas também por que só enxergam o mundo através do seu prisma, da sua ótica distorcida, suas verdades são as ultimas, as mais belas e sublimes e principalmente as únicas. A salvação só pode vir através deles, os gurus são homens ou mulheres inseguros e insuficientes que precisam de palco e platéia, criam dependência, insegurança. Eles amputam as pessoas ao redor e oferecem suas muletas, com a condição de servidão cega.
A pratica é criar um ambiente de “amor”, de harmonia, de aceitação. Claro que não é incondicional, não é amor, é uso, lucro, dizimo, taxa, mensalidade, investimento. No momento em que saímos taxa, da linha de conduta, caímos na perdição. Quando não servimos mais a causa, o amor se vai. Assim a dependência ofertada a eles vira motor do amor , da compaixão eu nos ofertam.
O ego-santo se coloca na condição especial de mestre, iluminado, escolhido, mensageiro de Deus, ou seja, Deus, a Existência, Buda, Jeová ou qualquer outro, não pode falar direto ao seu coração, existe um menino de recado, e todos sabemos que meninos de recado não são eficientes, eles se perdem, deturpam, às vezes bem intencionados, às vezes não. Não importa, ouvindo os meninos perdemos sempre o essencial, a capacidade de ouvir.
Primeiro foram às igrejas, dominavam o conhecimento, o caminho do céu ou inferno, agora se espalhou para seitas, terapias, filosofias. Cada uma se coloca como única, verdadeira, original, pura, mas lembremos que mesmo os gurus só enxergam o próprio nível. Assim imagine um guru new age qualquer, lendo ou recebendo um ensinamento de nível mais evoluído, ele o deturpara para o seu nível, sem reconhecer a falcatrua ou inconsciente deturpação, sua interpretação para passa a ser a única aceitável. Outras realidades, outras pessoas são desconsideradas.
É tácito que um psicólogo, terapeuta ou guru só irá levá-lo até onde ele já foi. E ele quase nunca pode ou mesmo quer ir muito além dos conflitos de interesses. Interesses pessoais, financeiros, sociais. Nesse momento entra em jogo a intoxicante sensação de poder, o poder de estarem à frente de milhões de pessoas, centenas, dezenas e, às vezes, é intoxicante estar à frente de uma só pessoa, enquanto essa alimenta sua sede.
Os gurus sofrem egomania, narcisismo crônico, carência abissal. É preciso muita compaixão para largar um guru com suas verdades contraditórias. Compaixão para interromper o alimento para o faminto Ego, compaixão para deixá-lo em sua noite escura, assombrado pelos demônios da solidão e do desespero. Compaixão consigo mesmo para se apoiar em seus próprios pés, compaixão para ouvir o seu interior, sua verdade, por que só depois que ouvimos nossas verdades, poderemos aceitar que existem outras verdades e que todas estão certas.
Virou modismo entre as “academias” que quanto mais expressa, dramatiza, vangloria seu ego, mais espiritualizado é considerado o guru, pois está vivendo sua verdade. Os “textos” oriundos de ensinamentos evoluídos, abrangentes e profundos são usados para justificar a expressão egóica.
Agora talvez a pior patologia do gurus new age, a Sombra. Sombra são aquelas partes do Eu, negadas e jogadas para escanteio, são partes do Eu que não quero saber. Mas elas existem, o que faço com ela? Projeto, transfiro para o outro, tudo aquilo que não admito em mim, coloco no outro, odeio no outro, claro que podemos ter razão, mas só conseguimos enxergar no outro o que temos em nós, só sei que o outro é controlador, egoísta, narcisista por que eu também tenho isso. Aos gurus falta coragem para enfrentar a sombra, descer do pedestal e transformar o “Dele” em “Meu”, agregar e integrar tudo aquilo que cuspo no outro como meu.
A sombra não integrada, não trabalhada, somada ao trabalho de meditação e transcendência tende a aumentar o estado alienante, já que minha transcendência é no outro, na projeção de minha sombra no outro, o sentimento que transcendo vem dele não de mim. Então continuo passando minha verdade como única, minha interpretação como verdadeira, e criam-se vacas hindus, gurus caras de paisagem, tudo ótimo e perfeito na mascara social, mas por trás a sombra várias vezes comanda o palco das ações. São gurus desse molde que incentivam suicídio em massa, terrorismo, divórcios afobados, comunidades utópicas, praticas ofensivas sem sentido, jogos politicos e etc, todos movidos por uma gigante Sombra.
Quando em contato com a súcia terapêutica devemos sempre lembrar a enorme sombra que os comandam em dados momentos e de que ali a maioria das vezes lidamos com suas mascaras.
Não podemos mais ser inocentes, a maioria dos gurus usam de artimanhas populistas, são totalitaristas e desempenham o que se chama estado de sitio, que consiste, nesse caso, modificar as regras estabelecidas de acordo com sue julgamento, usar do poder para comandar e desmandar quebrando as regras criadas e estabelecidas.
Não existe mestre melhor que a experiência ou do que a existência. É preciso se livrar de caminhos e mestres sem coração e responsabilidade. É preciso assumir a responsabilidade pela própria vida e não esperar o que fazer vindo de fora, não esperar modelos. Todos somos nossos próprios mestres, só não sabemos ainda por que isso nos foi tirado pelos gurus familiares na mais tenra infância.
Enfim, gurus são pessoas normais, humanas como qualquer um de nós, só lhes falta responsabilidade para admitirem a própria humanidade, sem se postarem como lideres salvadores, santos ou mestres. Tenhamos compaixão.
sexta-feira, 11 de julho de 2008
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