Há algumas centenas de anos descobriram a maior fraqueza do homem: O consumo. Assim como instinto de sobrevivência, fome, sono, necessidade de sentir prazer, consumir tornou-se uma característica inerente ao ser humano. Independe de cultura, credo, religião; fato é que aquele que convive em sociedade vive senão para um único motivo: trabalhar para comprar.
Esse é o conceito de liberdade contemporâneo, e não há aquele que transcenda a essa realidade. Se há, certamente não vive nesse mundo. O capitalismo não consegue esconder seu modelo doente, e essa não é a sua preocupação, pois ele já está enraizado na nossa alma, cultura, hábito e essência. O nosso espírito questionador é abafado pela superficialidade e artificialidade a nossa volta; observamos todas as pessoas vivendo suas vidas normalmente, trabalhando, estudando, viajando, tudo está tão bem. É tão simples viver bem. Temos uma rotina a cumprir, alguns problemas a serem resolvidos, ser um cidadão de bem, não matar, não roubar, se possível, não trair e não comprar muitas brigas.
Essas são as pessoas que funcionam, são programadas para procriarem, prosperarem e deixarem sua história e seus feitos para as próximas gerações. Já as pessoas que realmente vivem, essas não estão somente de passagem nesse mundo e deixam marcas profundas na sociedade, mudando eternamente o caminho daqueles que os enxergam e compreendem sua mensagem. No entanto há um preço a ser pago por esses virtuosos homens: A inquietude.
Creio que o sentimento que define todos os modelos econômicos que já existiram é o vazio. Mesmo os bem intencionados não escaparam da grande frustração. Surplus aponta a terrível farsa em que vivemos, a manipulação e a lavagem cerebral da qual estamos expostos diariamente, um bombardeio de informação, de produtos, padrões, discursos formulados para que acatemos e sigamos o que as grandes corporações nos ordenam sutilmente.
Criticar o consumismo é uma prática que já soa como ultrapassada, batida, porém, só uma pessoa extremamente apática não é capaz de enxergar as conseqüências desse sistema. Altamente autodestrutivo, arcaico, estúpido, não funciona ainda hoje, o capitalismo nunca funcionou e nem irá funcionar; modelo que homogeneíza, corrompe, deprime, confunde, fato é que ninguém mais sabe qual é o foco.
A homogeneização está presente nas particularidades das classes sociais: todos os pobres vivem nas mesmas condições, sempre desmotivadoras. A falta de uma educação de qualidade, o descaso e a exclusão dessas pessoas fazem com que elas anseiem em fazer parte de algo reconhecido pela sociedade, portanto se vestem do mesmo jeito, ouvem o mesmo estilo musical, falam de assuntos limitados. Não há um debate, um conflito de idéias. Para fugir dessa realidade, é preciso ir atrás, ter uma ampla visão das coisas e de sua complexidade. Os jovens que vivem nessa situação são suscetíveis às terríveis falhas desse sistema; o sentimento de inferioridade, de inconformismo, de querer fazer justiça e também poder usufruir dos luxos e benefícios que as classes superiores possuem são os principais motivos para ingressar no mundo violento do crime e do tráfico. Além de todas as crianças que ainda estão fora da escola trabalhando nas lavouras, nos lixões ou nos faróis das cidades. E pensar que o capitalismo propõe a competição, estimula o crescimento e a superação; qual a escolha que essas crianças têm? Qual a opção para elas se encaixarem na sociedade? É muito fácil prever o futuro desses jovens, na melhor das hipóteses serão assalariados de alguma pequena, média ou até mesmo grande empresa. Sorte daqueles que fogem a regra, que com muito sacrifício conseguem “ser alguém na vida”, ou seja, um de nós, que podemos estudar, trabalhar e ter uma vida digna nos moldes propostos. É inacreditável pensar que existe ainda hoje gente morrendo de fome e sem nenhum tipo de respaldo dos governantes e das grandes empresas. Saber que 400 bilhões de dólares circulam com a única finalidade de vender seus objetos de consumo, -indústria publicitária- para a população, e ainda assim, seres humanos morrem todos os dias pelos interesses dos grandes executivos e governantes. A estatística da estúpida guerra do Iraque é só um dos grandes indícios de que o homem se tornou apático, sem expressão, sem saber o que sentir, pensar, e acreditar, se é que, nessa altura do campeonato, consegue-se sentir algo.
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
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4 comentários:
tao engraçado quanto o FUCK da for those...
serio, muito bom sabrina!
Sa, me limito a dizer que você disse muito do que penso todos os dias, do que me deixa inquieta e do que me faz sentir pequena diante de tudo. Seu texto me fez pensar não apenas no consumo, no sistema, no vazio, na perda, no que fomos e no que somos, mas também que estar nessa situação é praticamente uma condição humana. E essa é a parte mais preocupante e irremediável.
Muito bom, amiga.
Capitalismo/consumo guia os caminhos mesmo, mas mesmo nós, que podemos estudar, não somos tão privilegiados a não ser por "entender" o que acontece. A educação tbm é um bem de consumo, é uma ferramenta pro trabalho e pro círculo vicioso dessa lógica. Ninguém escapa, nem quem quer, nem quem não gosta, nem quem entende, e isso sim é frustrante. Pare o mundo pq tem gente que quer descer!!!
Lendo de novo pensei duas coisas:
Foi um texto confessional que foge a imagem padrão de um estudante mackenzista. Não que essa imagem seja correta. Mas, caso ela seja, vc não se encaixa e eu julgo que isso é bom. Segundo, no mundo/ EUA, se gasta mais com publicidade e propaganda e armamento militar do que com medidas sociais visando equidade social. E com o tal dinheiro daria pra matar a "fome do mundo" umas 20x. TENSO!
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