terça-feira, 21 de abril de 2009

Marcola

Segundo a dateline(imprensa internacional) - alckimin culpado pelos ataques do PCC a são paulo. entrevista: http://www.youtube.com/watch?v=rahdUjZnOtI&feature=related

"Sou um sinal de novos tempos", afirma Marcola



"Vocês só podem chegar a algum sucesso se desistirem de defender a "normalidade". Não há mais normalidade alguma. Vocês precisam fazer uma autocrítica da própria incompetência. Mas vou ser franco... Na boa... Na moral... Estamos todos no centro do Insolúvel. Só que nós vivemos dele e vocês, não têm saída. Só a merda. E nós já trabalhamos dentro dela. Olha aqui, mano, não há solução. Sabem por quê? Porque vocês não entendem nem a extensão do problema. Como escreveu o divino Dante: "Lasciate ogna speranza voi che entrate!". Deixai toda a esperança, ó vós que entrais! Estamos todos no inferno...". A afirmação é de Marcola, líder do PCC, na entrevista publicada pelo jornal Globo, 23-5-2006.

Eis a entrevista:

Você é do PCC?

Mais que isso, eu sou um sinal de novos tempos. Eu era pobre e invisível... Vocês nunca me olharam durante décadas... E antigamente era mole resolver o problema da miséria... O diagnóstico era óbvio: migração rural, desnível de renda, poucas favelas, ralas periferias... A solução é que nunca vinha... Que fizeram? Nada. O governo federal alguma vez alocou uma verba para nós? Nós só aparecíamos nos desabamentos no morro ou nas músicas românticas sobre a "beleza dos morros ao amanhecer", essas coisas... Agora, estamos ricos com a multinacional do pó. E vocês estão morrendo de medo... Nós somos o início tardio de vossa consciência social... Viu? Sou culto... Leio Dante na prisão...

Mas... A solução seria...

Solução? Não há mais solução, cara... A própria idéia de "solução" já é um erro. Já olhou o tamanho das 560 favelas do Rio? Já andou de helicóptero por cima da periferia de São Paulo? Solução como? Só viria com muitos bilhões de dólares gastos organizadamente, com um governante de alto nível, uma imensa vontade política, crescimento econômico, revolução na educação, urbanização geral; e tudo teria de ser sob a batuta quase que de uma "tirania esclarecida", que pulasse por cima da paralisia burocrática secular, que passasse por cima do Legislativo cúmplice (ou você acha que os 287 sanguessugas vão agir? Se bobear, vão roubar até o PCC...) e do Judiciário, que impede punições. Teria de haver uma reforma radical do processo penal do país, teria de haver comunicação e inteligência entre polícias municipais, estaduais e federais (nós fazemos até "conference calls" entre presídios...). E tudo isso custaria bilhões de dólares e implicaria numa mudança psicossocial profunda na estrutura política do país. Ou seja: é impossível. Não há solução.

Você não tem medo de morrer?

Vocês é que têm medo de morrer, eu não. Aliás, aqui na cadeia vocês não podem entrar e me matar... Mas eu posso mandar matar vocês lá fora... Nós somos homens-bomba. Na favela tem cem mil homens-bomba... Estamos no centro do Insolúvel, mesmo... Vocês no bem e eu no mal e, no meio, a fronteira da morte, a única fronteira. Já somos uma outra espécie, já somos outros bichos, diferentes de vocês. A morte para vocês é um drama cristão numa cama, no ataque do coração... A morte para nós é o presunto diário, desovado numa vala... Vocês intelectuais não falavam em luta de classes, em "seja marginal, seja herói"? Pois é: chegamos, somos nós! Ha, ha... Vocês nunca esperavam esses guerreiros do pó, né? Eu sou inteligente. Eu leio, li 3.000 livros e leio Dante... Mas meus soldados todos são estranhas anomalias do desenvolvimento torto desse país. Não há mais proletários, ou infelizes ou explorados. Há uma terceira coisa crescendo aí fora, cultivada na lama, se educando no absoluto analfabetismo, se diplomando nas cadeias, como um monstro Alien escondido nas brechas da cidade. Já surgiu uma nova linguagem. Vocês não ouvem as gravações feitas "com autorização da Justiça"? Pois é. É outra língua. Estamos diante de uma espécie de pós-miséria. Isso. A pós-miséria gera uma nova cultura assassina, ajudada pela tecnologia; satélites, celulares, internet, armas modernas. É a merda com chips, com megabytes. Meus comandados são uma mutação da espécie social, são fungos de um grande erro sujo.

O que mudou nas periferias?

Grana. A gente hoje tem. Você acha que quem tem US$40 milhões como o Beira-Mar não manda? Com 40 milhões a prisão é um hotel, um escritório... Qual a polícia que vai queimar essa mina de ouro, tá ligado? Nós somos uma empresa moderna, rica. Se funcionário vacila, é despedido e jogado no "microondas"... Ha, ha... Vocês são o Estado quebrado, dominado por incompetentes. Nós temos métodos ágeis de gestão. Vocês são lentos e burocráticos. Nós lutamos em terreno próprio. Vocês, em terra estranha. Nós não tememos a morte. Vocês morrem de medo. Nós somos bem armados. Vocês vão de três-oitão. Nós estamos no ataque. Vocês, na defesa. Vocês têm mania de humanismo. Nós somos cruéis, sem piedade. Vocês nos transformam em "superstars" do crime. Nós fazemos vocês de palhaços. Nós somos ajudados pela população das favelas, por medo ou por amor. Vocês são odiados. Vocês são regionais, provincianos. Nossas armas e produto vêm de fora, somos globais. Nós não esquecemos de vocês, são nossos fregueses. Vocês nos esquecem assim que passa o surto de violência.

Mas o que devemos fazer?

Vou dar um toque, mesmo contra mim. Peguem os barões do pó! Tem deputado, senador, tem generais, tem até ex-presidentes do Paraguai nas paradas de cocaína e armas. Mas quem vai fazer isso? O Exército? Com que grana? Não tem dinheiro nem para o rancho dos recrutas... O país está quebrado , sustentando um Estado morto a juros de 20% ao ano, e o Lula ainda aumenta os gastos públicos, empregando 40 mil picaretas. O Exército vai lutar contra o PCC e o CV? Estou lendo o Klausewitz, "Sobre a guerra". Não há perspectiva de êxito... Nós somos formigas devoradoras, escondidas nas brechas... A gente já tem até foguete antitanque... Se bobear, vão rolar uns Stingers aí... Pra acabar com a gente, só jogando bomba atômica nas favelas... Aliás, a gente acaba arranjando também "umazinha", daquelas bombas sujas mesmo... Já pensou? Ipanema radioativa?

Mas... Não haveria solução?

Vocês só podem chegar a algum sucesso se desistirem de defender a "normalidade". Não há mais normalidade alguma. Vocês precisam fazer uma autocrítica da própria incompetência. Mas vou ser franco... Na boa... Na moral... Estamos todos no centro do Insolúvel. Só que nós vivemos dele e vocês, não têm saída. Só a merda. E nós já trabalhamos dentro dela. Olha aqui, mano, não há solução. Sabem por quê? Porque vocês não entendem nem a extensão do problema. Como escreveu o divino Dante: "Lasciate ogni speranza voi che entrate!". Deixai toda a esperança, ó vós que entrais! Estamos todos no inferno...


Os autores preferidos de Marcola. Desde Agostinho até Nietzsche


No depoimento à CPI do Tráfico de Armas, em 8 de junho, o líder do PCC, Marcos Camacho, o Marcola, afirmou acreditar na origem social da violência, se disse leitor de Nietzsche, Voltaire e Victor Hugo, declarou que não acredita em recuperação de criminosos, e, discutindo com um parlamentar que atribuiu a ele a liderança da organização criminosa, atacou: "E o que que os deputados fazem? Não roubam também?"

Trechos do depoimento foram publicados ontem no blog do jornalista Reinaldo Azevedo (http://blogdoreinaldoazevedo.blogspot.com/). Leia alguns deles abaixo:


Jungmann - Aí fora se fala muito que você é um leitor voraz de livros. Aí eu queria pedir que você me dissesse quais são os seus 5 principais autores, ou 3. Como você queira. Quem mais você gostou?

Marcola- Nietzsche...

Jungmann - Nietzsche!

Marcola - Nietzsche, Voltaire...

Jungmann - Hã, hã. Quem mais?

Marcola - Victor Hugo, Les Miserables. Sei lá... Eu adoro ler. Santo Agostinho, em determinados momentos. Confissões... É uma gama muito grande. Depende do momento e da situação, a gente tem um determinado prazer a mais de ler determinado autor.

Neucimar Fraga - A Bíblia também?

Marcola - A Bíblia... (...) Não, mas eu li, claro. Estudei a Bíblia, muito, porque eu queria crer. Eu quero crer. Eu quero que exista uma força, mas eu sei que não existe, porque, se existisse, não poderia ter tanta injustiça. Não só por isso. Como eu digo, a Bíblia, umas 5 vezes eu li ela inteira, de Êxodos a Apocalipse. Êxodos, não. De...

Neucimar Fraga - Gênesis.

Marcola - Gênesis

Jungmann - Uma terceira questão, Marcos: você tem ídolos? Você admira alguém?

Marcola - Não.


"Nós todos somos filhos da miséria", afirma Marcola


Marcola: Eu acho que é o seguinte. Nós todos somos praticamente filhos da miséria, todos somos descendentes da violência, desde crianças somos habituados a conviver nela, na miséria, na violência. Isso aí, em qualquer favela o senhor vai ver um cadáver ali todo dia. Quer dizer, a violência é o natural do preso, isso é natural. Agora, essas organizações [refere-se a organizações como o PCC] vêm no sentido de refrear essa natureza violenta, porque o que ela faz? Ela proíbe ele [o preso] de tomar certas atitudes que pra ele seria natural, só que ele estaria invadindo o espaço de outro, o senhor entendeu? De outro preso. E elas vêm no sentido de coibir isso mesmo. É claro que se...

Paulo Pimenta - Certo, mas qual é a contrapartida que a organização exige dele? Ele paga para isso?

Marcola - Não, ninguém paga dentro da prisão pra nada, acabou isso. Houve uma época que parece que pagavam R$ 20, alguns presos que são ligados a uma determinada organização. Eram R$ 20 reais de caixinha, mensalmente, pra que pudessem ter advogados, assistência jurídica, muitas vezes... Só que isso foi abolido. Dentro do sistema penitenciário, ninguém dá um real pra ninguém. Agora, é claro que, por exemplo, pra impor essa política de respeito... Por exemplo, dentro do sistema penitenciário de São Paulo, é proibido o uso de crack, de uma droga chamada crack.

Paulo Pimenta - Isso foram os próprios presos que estabeleceram essa regra.

Marcola - Foi essa organização criminosa, que viu a degradação a que os presos estavam chegando e viu que estava totalmente sob... em falta de controle. Não tinha como controlar o crack dentro da prisão. Então foi simplesmente abolida, pro cara... Como se abole uma droga que faz o cara roubar a mãe, matar a mãe e tudo o mais? É difícil. Então, tem que mostrar a violência e falar: "Ó, cara, se você usar isso, pode te acontecer...".


Marcola diz que negociou antes dos ataques


A cúpula da polícia de São Paulo não negociou com criminosos só depois de deflagrada a onda de ataques que aterrorizou São Paulo no início de maio. Sentou-se com líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital) também antes do agravamento da crise.

Detalhes das duas tentativas de entendimento constam de depoimento que Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, prestou a deputados da CPI do Tráfico de Armas. Acusado de ter ordenado os ataques, Marcola foi ouvido em sessão reservada, no dia 8 de junho, na penitenciária de Presidente Bernardes (SP). A notícia é do jornal Folha de S. Paulo, 10-7-2006.

A inquirição foi gravada. Durou quatro horas e 13 minutos. Marcola contou que, em 12 de maio, dia em que começaram os ataques do PCC, foi levado à presença de Godofredo Bittencourt, diretor do Deic (Departamento de Investigações sobre Crime Organizado).

Em encontro testemunhado por outras autoridades policiais, Godofredo perguntou a Marcola o que poderia ser feito para estancar as rebeliões em presídios e os ataques. Àquela altura, só havia duas cadeias rebeladas (Iaras e Araraquara) e quatro policiais mortos.

Marcola disse ter pedido comida, cobertores e direito a banho de sol para 765 presos que haviam sido transferidos na véspera para uma cadeia de Presidente Vesceslau. Pediu também o restabelecimento da visita do Dia das Mães. Seria no domingo seguinte. Atendidas as reivindicações, prometeu interceder pelo fim da violência.

Conforme o relato de Marcola à CPI, o diretor do Deic concordou com as exigências.

"Aí ele ligou pro Nagashi (Furukawa, então secretário de Administração Penitenciária de São Paulo), e o Nagashi falou simplesmente que não iria fazer concessão nenhuma".
Marcola disse que estranhou a "intransigência" de Nagashi.

Afirmou que a transferência dos presos foi interpretada nas cadeias como um "gesto político".

"A gente tem noção política, somos politizados", disse o líder do PCC. "Então a gente sabe, em determinado momento, se faz uma situação (...) que nem essa transferência do Nagashi. A gente sabia que ali era uma forma de ele dar uma resposta pra sociedade, dizendo "ó, tranquei toda uma liderança, isolei todos e tal", e pronto".

O relator da CPI, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), perguntou a Marcola se o objetivo do governo paulista teria sido o de "dar uma demonstração de força". E o criminoso: "Pra promover o (Geraldo) Alckmin (candidato do PSDB à presidência). Certo que o tiro saiu pela culatra. E como!"

Dois dias depois da negociação malograda do Deic, a cúpula da polícia paulista dobrou os joelhos. Autoridades policiais voaram, em avião do Estado, para Presidente Bernardes, para onde Marcola fora levado. Estava também a bordo a advogada Iracema Vasciaveo. Reuniram-se com Marcola à noite. Àquela altura, havia 52 pessoas mortas e 57 cadeias rebeladas.

Marcola foi instado a se comunicar, pelo celular, com líderes do PCC em outras cadeias, para avisar que não sofrera agressões físicas. Seria a senha para acabar com a onda de ataques. Recusou-se. Mas indicou outra pessoa para falar ao telefone: o preso LH, iniciais de Luiz Henrique, que se encontrava na mesma prisão. A ligação foi feita, disse Marcola à CPI. Mas não revelou quem estava do outro lado da linha

Líder do PCC discute com deputado

A inquirição de Marcola transcorria em tom cordial. Súbito, o deputado Moroni Torgan alterou o timbre de voz. Acusou a facção de aproveitar-se dos presos, obrigando-os a reincidir no crime para financiar o PCC. Marcola irritou-se.

MORONI - O que existe é uma organização criminosa.

MARCOLA - Vamos parar o grito (...).

MORONI - Uma organização criminosa.

MARCOLA - Vamos gritar. É isso que o senhor quer?

MORONI - Eu falo do jeito que eu quiser (...).

MARCOLA - Não grita, pô!

MORONI - Agora eu quero dizer, com todo o respeito que eu tenho pela humanidade: o PCC existe para explorar os coitados dos presos que têm que sair para rua e trabalhar para eles. Tem que trabalhar, tem que ser criminoso. Se tu saíres, pagar tua pena, tu tens que ir para rua para ser criminoso.

MARCOLA - E o que é que os deputados fazem? Não roubam também? Roubam para caralho, meu!

MORONI - É, isso vai ser outra coisa que tu vai ser indiciado também.

MARCOLA - Só porque deputado rouba eu vou ser indiciado?

MORONI - Por desacato. (...)

MARCOLA - Que moral tem algum deputado para vir gritar na minha cara? Nenhuma.

MORONI - Todo homem de bem tem moral de falar.

MARCOLA - Mas quem disse que... Cadê o homem de bem? Todo bandido fala que é homem de bem.

Marcola desculpou-se. Lamentou ter pronunciado um palavrão. Não foi indiciado.

"Não acho um traficante melhor do que um deputado nem um deputado melhor do que um traficante"

Trechos do depoimento:

INÍCIO DOS ATENTADOS: "Naquele momento de revolta, vários presos telefonaram pra vários setores, para vários amigos, para várias pessoas e pediram providências".

ONDE ESTAVA: "Estava em Venceslau com fome, com frio, revoltado, como todos os outros presos, muito mais, porque domingo seria a visita do Dia das Mães. Quer dizer, a gente não tinha cometido falta disciplinar nenhuma que justificasse um regime mais rigoroso pra gente naquele momento".

RAZÕES: " No mínimo, no mínimo, houve aí uma incompetência. Mas acho que é muito mais do que isso. Houve uma provocação. Não posso afirmar, mas foi feito de uma forma muito contundente no sentido de nos fazer sofrer. E, como vários líderes estavam ali, era natural que houvesse uma reação".

GELEIÃO: "Ele queria explodir a Bolsa de Valores. Não era tanto quanto o que ocorreu agora, mas ele queria atentados terroristas e eu era totalmente contra esse tipo de situações. Então a gente começou a divergir muito nesse sentido".

DEPUTADOS: "Não acho um traficante melhor do que um deputado nem um deputado melhor do que um traficante".

CRACK NAS PRISÕES: "Foi essa organização criminosa (anterior) que viu a degradação a que os presos estavam chegando e viu que estava totalmente fora de controle. Não tinha como controlar o crack dentro da prisão. Então, foi simplesmente abolida. Como se abole uma droga que faz o cara roubar a mãe, matar a mãe e tudo o mais? É difícil. Então, tem que mostrar a violência e falar: "Ó, cara, se você usar isso, pode te acontecer".

FIM DOS ESTUPROS NA PRISÃO: "O cara estuprar outro preso? Isso aí tinha muito dentro do sistema penitenciário de São Paulo e o Estado jamais teve condições de suprimir isso. Aí. veio essa organização, raciocinou que isso era algo que afrontava a dignidade humana".

LIVROS NA CADEIA: "A gente começa a questionar esse poder do Estado, o senhor entendeu? Porque a gente é vítima dele. A partir de então, a gente vai criando uma consciência um tanto revoltada, mas uma consciência que até então não tinha".

LÍDERES NO SISTEMA PENITENCIÁRIO: "Não existe um ditador. Embora a imprensa fantasie, romanticamente, que exista esse cara, o líder do crime. Existem pessoas esclarecidas dentro da prisão, que, com isso angariam a confiança de outros presos. Por quê? O preso vem com um problema, você dá uma solução pra ele, mostra uma lógica, mostra a forma que ele está sendo tratado ou a forma que ele deveria ser".

SOLIDARIEDADE NA CADEIA: "A gente procura ser solidário, senhor. O cara chega ali com fome, pelado, com frio... Eu tenho duas blusas, eu dou uma para ele; eu tenho dois pães, eu dou um pra ele. Não precisa ser de organização nenhuma isso daí".

DIFERENÇA SP-RJ: O carioca já vem do tráfico há muito tempo, até pelo morro, por tudo mais. E o paulista não. O paulista começou a pegar pesado em tráfico de drogas de 10 anos pra cá".


Acusado de ordenar a série de atentados que aterrorizou São Paulo em meados de maio, o preso Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, acusado de comandar a maior facção criminosa do estado, confessou a integrantes da CPI do Tráfico de Armas a existência de uma rede de proteção à população carcerária de São Paulo, sustentada financeiramente por bandidos que estão soltos. Ele próprio admitiu que pagou advogados com o dinheiro arrecadado em dois de seus assaltos a bancos.

O depoimento de Marcola a oito integrantes da CPI, no dia 8 de junho, publicado hoje pelo jornal Globo, 4-7-2006, durou quatro horas. Apontado como chefe da facção criminosa que controlaria os presídios paulistas, ele disse que, à exceção dos "presídios mais miseráveis", todo preso que ingressa no sistema recebe proteção dos bandidos, incluindo assistência às famílias.

"A gente procura ser solidário", disse o bandido.

Apesar da pressão dos deputados, Marcola negou sistematicamente ser chefe da facção criminosa. No fim, contudo, deixou-se trair pela vaidade ao ser indagado se sofria ameaças de morte. Ele admitiu que uma facção rival, que acredita ter o controle de 5% da população carcerária de São Paulo, teria interesse em eliminá-lo.

"Eles querem me matar no seguinte sentido: não querem matar o Marcos Willians Herbas Camacho. Eles querem matar esse símbolo".

"Símbolo de quê, Marcos?", cobrou o deputado Moroni Torgan, presidente da CPI.

"Símbolo desta organização que vem sendo veiculada como se eu fosse o líder".

Marcola só citou nomes de inimigos e de mortos

Marcola não deixou perguntas sem resposta, mas evitou citar nomes - a não ser de bandidos já mortos ou de seus adversários notórios - e informações sobre esquemas de tráfico de drogas e contrabando de armas.

Ele só abandonou a cautela quando se referiu a José Márcio Felício, o Geleião, ex-chefe de sua facção. Ele acusou o ex-comparsa de ser radical por defender a prática de atentados terroristas.

"Ele queria explodir a Bolsa de Valores (de São Paulo)", disse o preso.

No depoimento Marcola, que barbarizou São Paulo com rebeliões em massa tanto em 2001 como este ano, tenta passar a imagem de uma facção criminosa preocupada essencialmente com o bem-estar da população carcerária - o sistema paulista abriga cerca de 125 mil presos. Ele disse que a organização surgiu em 1993 e se consolidou dois anos depois para enfrentar problemas como o estupro e a epidemia de crack que tomava conta das prisões paulistas.

Marcola admitiu que, após o início dos atentados, foram feitos contatos com autoridades do governo para cessar os ataques. Informou à CPI que um telefonema dado do presídio de Presidente Bernardes por outro comparsa, Luiz Henrique, o LH, pôs fim às rebeliões nas prisões.

A ligação aconteceu dois dias após o início dos motins, quando a advogada Iracema Vasciaveo esteve em Presidente Bernardes acompanhada por representantes do governo do estado e da polícia. Iracema teria entrado no presídio com dois celulares e ofereceu um deles para LH telefonar para um detento que estava em outro presídio rebelados. Com a informação de que Marcola estaria bem, as rebeliões foram encerradas.

Acusado de ordenar a morte do juiz Antônio José Machado Dias em março de 2003 (Presidente Prudente), ele culpou um ex-comparsa, Bandeijão, já morto. No fim, os integrantes da CPI perguntarem sobre as razões de seu apelido, Marcola:


O apelido Marcola vem dos tempos da Praça da Sé. Mistura de Marcos com cola

"Quando criança, cheirava cola na Praça da Sé, de onde veio o apelido, mistura de Marcos e cola".

Marcola tentou dizer que lê muito e que é contrário à violência, mas perdeu a linha quando foi pressionado pelo presidente da CPI, Moroni Torgan (PFL-CE), a confessar que seria o chefe da facção criminosa e que a organização achacaria os presos.

"Os coitados dos presos têm de sair às ruas para trabalhar para ela (a facção). Têm que ser criminosos", acusou o parlamentar cearense.

Irritado, Marcola reagiu:

"E o que os deputados fazem? Não roubam também?"

O bate-boca foi o momento mais tenso do depoimento, tomado em Presidente Bernardes (SP). Antes de insultar os parlamentares, Marcola pediu que Moroni diminuísse o tom de voz ao interrogá-lo. O deputado advertiu que o preso seria indiciado por desacato.

Parlamento brasileiro corre o risco de ser desmoralizado por Marcola


Da coluna de Jorge Moreno, publicada hoje, 27-5-06, no jornal Globo:

Pesou na decisão da Câmara de vetar a presença de Marcola na Casa um relatório do Deic sobre o perfil intelectual do criminoso.

O relatório diz que Marcola já leu mais de mil livros. Estudou Proust e, para fazer média com Lembo, já se preparava para dissecar Bobbio quando foi isolado.

Quase enlouqueceu para entender "Esquerda em processo", obra-prima de Tarso Genro.
Mas chama de "O meu pé de laranja lima" o livro "A arte da política - A história que vivi", de FH.

Sabe tudo de história do Brasil e disserta sobre a vida de Deodoro e Floriano melhor que Aldo Rebelo.

Ou seja, o bandido não daria um depoimento, mas um show.

E desmoralizaria o primeiro parlamentar que tentasse inquiri-lo.

Em resumo, o Parlamento brasileiro corria o risco de ser
desmoralizado por marcola.

Fonte: unisinos

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